GEOGRAFIA BÍBLICA
Geografia é a ciência que descreve
a superfície de uma região, seus acidentes físicos, climas, solos e vegetações,
assim como as relações das pessoas com esse meio. Ela não explica tudo, mas
fornece elementos importantes para que se possa compreender a história, a
economia, a organização política, a cultura, enfim, a forma de pensar e viver
de um povo.
A Bíblia descreve sua
geografia com palavras poéticas e idílicas: “a terra que mana leite e mel” (Ex
3.8; 13.5; 33.3; Lv 20.24; Nm 13.27; 14.8; 16.13,14; Dt 6.3; 11.9; 26.9,15; 26.15; 27.3; 31.20; Js
5.6; Jr 11.5; 32.22; Ez 20.6,15). Quem não conhece a região, pode ser traído
por essa expressão. Com algumas poucas exceções, a paisagem é sóbria, com colinas,
montanhas pedregosas, vegetação pobre, grandes áreas semi-desérticas ou
desérticas. A expressão só adquire sentido para quem procede do grande deserto
siro-arábico. Foi a partir dessa perspectiva que os israelitas viram a terra
prometida, depois de vagar pelo duro deserto.
O território bíblico é
conhecido por diversas expressões: a) Terra
de Canaã ou Canaã: A Bíblia emprega esse nome quando a terra era só uma
esperança e uma promessa. Por isso ele aparece nada menos que 78 vezes de
Gênesis a Juízes (p.ex.: Gn 12.5; 13.12; 37.1; Nm 13.2; Js 17.12; Jz 1.9,27).
Depois que os textos bíblicos descreveram a ocupação do território pelos filhos
de Israel, esse nome é utilizado só raramente (11 vezes em Sl, Is, Ez, Os,
sempre como referência ao passado). O nome deriva de Canaã, quarto filho de Cão
e neto de Noé. Etimologicamente significa “habitante de terras baixas”,
indicando sua preferência por planícies. São os antecedentes dos fenícios (a
Fenícia é conhecida no Novo Testamento como “os lados de Tiro Sidom”).
Por referir-se apenas à região costeira do Mar Mediterrâneo, o nome não combina
com o restante do território, muito menos com a Transjordânia, do outro lado do
rio Jordão.
b) Terra de Israel: A expressão hebraica ‘erets Israel, utilizada na literatura rabínica e consagrada pelo
moderno Estado sionista, não aparece mais que onze vezes na Bíblia (1 Sm
13.19). Após o cisma entre o sul e o norte, designava apenas o reino do norte.
A expressão hebraica ‘admat israel,
usada dezenove vezes em Ezequiel, designa o solo da terra santa privado de seu
povo e da presença divina.
c) Terra de Judá ou Judéia: A princípio, referia-se apenas à area que
coube à tribo de Judá. Após a divisão do reino, o termo englobou a território
de Benjamim, formando a reino de Judá. Quando o povo voltou do cativeiro
babilônico e reorganizou a vida nacional, o nome passou a designar todo o
território compreendido na bênção de Jacó (Gn 49.8-12) e seus habitantes
passaram a ser chamados de “judeus”.
d) Terra prometida ou terra da promessa: Baseado na promessa feita a
Abraão em Gn 12.1-4, esse nome é usado pela tradição judaica, cristã e até
muçulmana. A expressão “a terra que Javé jurou dar a vossos pais” aparece 15
vezes em Deuteronômio (1.8; 6.10; 6.23; 28.11; 29.13).
e) Terra Santa: Baseado em Zc 2.12, o nome foi adotado por cristãos da
Idade Média (Ex 3.5; 1 Sm 13.19; Zc 2.12).
f) Palestina: O termo não aparece na Bíblia como designação da terra.
Fora do ambiente judaico, é hoje a designação mais comum. O nome foi utilizado
pelos romanos para designar a província da Judéia após a rebelião judaica
liderada por Bar Kochba nos anos de 132 a 135. Generalizou-se no período bizantino,
quando foi tomado da linguagem administrativa do Império Romano. Os romanos
tomaram a expressão de Heródoto (falecido por volta de 425 a .C.), historiador da
Ásia Menor conhecido como “o pai da história”, que chama de Síria-Palestina,
ou simplesmente Palestina a região que vai desde a Fenícia até o Egito.
Etimologicamente, Palestina provém de palastu
ou peleshet, que é o nome que
recebe o país dos filisteus em
documentos assírios do sétimo século antes de Cristo e na Bíblia.
Como se vê, a Bíblia não
conhece um nome fixo para designar o país habitado pelos israelitas. A falta de
um nome próprio, preciso e constante mostra que, apesar de ser um país pequeno,
ele nunca formou uma unidade homogênea bem definida, nem na geografia física,
nem na étnica, nem na política. Com raras exceções, a Palestina conheceu a
presença simultânea de populações distintas, condicionadas, por sua vez, por
forças políticas distintas. Como não poderia deixar de ser, vamos dedicar a maior parte de nossa exposição ao território que
corresponde ao centro dos acontecimentos bíblicos. Mas a geografia
bíblica também deve ser descoberta e estudada a partir dos países à sua volta,
com quem o povo de Deus compartilha características análogas e dentro dos quais
se desenvolveu sua vida. Por isso incluiremos na abordagem a Mesopotâmia e o
Egito. À geografia bíblica também pertence, a rigor, o território que circunda
a bacia do Mediterrâneo, em especial para o período do Novo Testamento. Mas
devido à extensão da matéria, não podemos dar atenção maior a ela.
Além
de situar os lugares mencionados na Bíblia, nos propomos nesse texto a estudar
a geografia bíblica. As informações que iremos prestar são as que possuem algum
interesse para contextualizar e compreender os textos bíblicos. Muitos dados
não bíblicos, que de um ponto de vista científico poderiam ter grande
importância geográfica, serão omitidos. Junto com detalhes geológicos,
topográficos e geográficos, incluiremos também alguns dados históricos do
período bíblico (inclusive medievais ou modernos), arqueológicos e até um “guia
turístico” da Terra Santa. Em uma palavra: daremos atenção àquilo que possa contribuir
para que se tenha um melhor conhecimento do país que serve de cenário para a
Bíblia. Observe-se, ao longo do texto, alguns sinais utilizados para orientar o
leitor: Palavra sublinhada designa personagens importantes; palavra
em negrito: nome de cidade; PALAVRA MAIÚSCULA EM
NEGRITO: nome de região; palavra em negrito e
sublinhada: nome de povos; palavra
sublinhada em itálico e negrito: rios. O texto apresenta,
igualmente, vários links com endereços da internet, que complementam as
informações ou as ilustram com imagens.
I -
FONTES PARA A GEOGRAFIA BÍBLICA
Situar
geograficamente os lugares mencionados na Bíblia nem sempre é uma tarefa fácil,
em especial quando não restaram vestígios claros de sua localização. Por isso a
pergunta pelas fontes da geografia bíblica é uma questão importante.
1.1 - FONTES
ANTIGAS
O
mapa mais antigo da região bíblica é
um mosaico do ano 600 d.C. Trata-se de uma
obra feita para decorar o piso de uma igreja bizantina, na cidade de Madeba,
próxima ao monte Nebo, na atual Jordânia. A obra representa a Terra Santa,
desde o Líbano até o Egito, incluindo Israel/Palestina, a Transjordânia e o
Sinai. Ela detalha montanhas, rios, vales, cidades, ruas e até locais de banho
e pesca no rio Nilo. Dos 94 m²
do painel original, somente 25
m² estão preservados. Sua importância é enorme para o
estudo da arte, história e topografia dos tempos bíblicos. Só a seção relativa
à cidade de Jerusalém tem 156 referências a fatos e lugares citados no livro
sagrado - por exemplo, a indicação precisa dos locais do Santo Sepulcro e da
Via Cardus Maximus. O mosaico foi descoberto acidentalmente em 1897, durante a
construção da nova Igreja Ortodoxa Grega de São Jorge sobre as ruínas de um templo
bizantino. Atualmente, é uma atração turística internacional (http://www.christusrex.org/www1/ofm/mad/index.html).
Outro mapa muito antigo é o Tabula Peutingeriana. Trata-se
de mapa mundial com vias de
comunicação, reduzido a uma tira de uns 8 metros de comprimento
por 0,33 de lagura, dividida em doze seções. Cobre a Europa, partes da Ásia e o
norte da África. O original poderia ser do século III d.C., mas a cópia que
chegou até nós é de 1265. Este mapa, que deve seu nome a Konrad Peutinger, se
conserva atualmente na Biblioteca Nacional de Viena (http://www.romancoins.info/Tabula-Peutingeriana.html).
As origens do mapa bíblico, no sentido de
listas de cidades, se situam no antigo Egito, pois ali se encontram relações de
cidades palestinenses escritas sobre fragmentos de cerâmica, sobre tabletes de
argila e em muros de construções. Até 1900 a .C. escreveram-se certos
nomes de cidades cananéias em
cerâmica. Os vasos dos quais provêm a cerâmica, destinados a
serem quebrados no curso de uns ritos mágicos de maldição, foram achados por
volta de 1930 e recebem o nome de “textos de execração” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Textos_de_Execra%C3%A7%C3%A3o).
No período que segue a 1370 a .C.,
numerosos príncipes de Canaã escreveram ao faraó egípcio pedindo ajuda para
defender suas cidades contra uns saqueadores chamados habiru (‘apiru). Estas
cartas, chamadas de el-Amarna e encontradas em fins do século passado,
têm grande importância para se conhecer a situação geográfica e política da
Palestina no período imediatamente anterior a Moisés e Josué. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cartas_de_el-amarna). Os faraós
Ramsés II (1290-1224) e Sesonq (ca. 920; Sisaque em 1 Rs
14.25) também deixaram importantes listas geográficas em monumentos do sul do
Egito, sobretudo em Luxor.
Vêm
em seguida as listas de cidades que nos oferece o próprio AT e o NT. Estas listas e textos representam
uma grande contribuição para geografia bíblica. Incluem textos como Js 13-21
(listas de cidades de várias tribos); Gn 10 (lista de povos); 2 Cr 11.6-10
(cidades fortificadas) e os “oráculos contra as nações “ dos Profetas Maiores
(p. ex. Is 13-23; Jr 46-52; Ez 25-32). Também os textos do Novo Testamento, em
especial os evangelhos, Atos dos Apóstolos e o livro do Apocalipse, fornecem
informações importantes para a geografia da Terra Santa e do Império Romano.
Numerosas
informações são dadas, além disso, por autores clássicos como Heródoto,
Estrabão, Plínio, Josefo e o geógrafo Ptolomeu. A obra mais importante da
antiga topografia palestinense é o Onomasticon
de Eusébio, do ano de 330 d.C., um amplo
estudo geográfico-histórico da Terra Santa. Em A. Neubauer , Géographie du Talmud e em Eretz-Israel Annual , 2 e Atlas se recolhem
importantes observações geográficas do judaísmo pós-bíblico. G. Le Strange, R.
Dussaud e A. S. Marmardji têm publicado notícias procedentes de geógrafos
árabes. São também importantes os dados trazidos por peregrinos e pelos
cruzados, especialmente no que se refere a lugares do NT. Uma dessas
peregrinas, chamada Etéria, deixou em suas obras muitas informações geográficas
e um verdadeiro painel da vida da Igreja na Terra
Santo do fim do século IV. O fino senso de observação dessa devota e perspicaz
peregrina legou à posteridade um documento valioso que merece ser apreciado por
todos os cristãos (confira o livro traduzido por Frei Alberto Beckhauser, A Peregrinação
de Etéria. Petrópolis: Vozes, 2005).
Desgraçadamente se mostrava aos peregrinos, com muita freqüência, umas
localizações que respondiam mais aos itinerários principais que as notícias
transmitidas por fontes históricas.
1.2 - FONTES
MODERNAS
A confecção de mapas da Palestina alcançou seu
apogeu em meados do século XIX. Em 1838, o clérigo de Boston, E. Robinson,
durante uma viagem pela Terra Santa que durou três meses, em companhia do
missionário Eli Smith, que falava o árabe, localizou mais lugares palestinenses
que os que haviam sido descobertos desde os tempos de Eusébio. O êxito sugeriu
a criação do British Palestine Exploration Fund e o seu Survey of Western Palestine com seis volumes.
Este trabalho está na base dos principais mapas
atualmente em uso. Os
principais são: o Topocadastral Survey, o
Westminster Historical Atlas, o mapa
da National Geographic, o Geographie de Abel, assim como os mapas de M. Avi-Yonah e de G. Blake.
Uma advertência quanto aos mapas: Todo mapa bíblico
leva implícito um juízo acerca da identificação dos lugares, especialmente
sobre a relação dos modernos nomes árabes de lugar e os antigos nomes citados
na Bíblia. Uma geografia científica da Palestina não pode prescindir de uma
constante confrontação com os nomes populares de lugar preservados na língua
árabe. Também é preciso ter em conta a dificuldade de transcrever os nomes
hebreus e árabes para outras línguas. Via de regra utilizaremos a grafia
utilizada pela versão de Almeida da Bíblia.
II-
GEOGRAFIA DOS PAÍSES CIRCUNVIZINHOS
2.1
– O CRESCENTE FÉRTIL
O território bíblico é parte
de um conjunto geográfico que por causa de sua configuração recebeu o nome de “Crescente
Fértil” (J.H.Breasted). Trata-se de um arco verde em forma de lua
crescente, com cobertura vegetal apreciável e duradoura, cujas pontas estão na
Mesopotâmia, no Oriente, e no delta do rio Nilo, no Ocidente (http://pt.wikipedia.org/wiki/Crescente_F%C3%A9rtil).
O corpo do arco passa entre os rios Tigre e Eufrates e nas costas orientais do
Mar Mediterrâneo. O Crescente Fértil é irrigado por rios mais ou menos
importantes: Tigre, Eufrates (Iraque), Orontes (Síria), Litani (Líbano), Jordão
(Palestina) e o delta do Nilo (Egito). A margem
externa do crescente é constituída pelos maciços montanhosos do planalto
iraniano, da Armênia e do Taurus. A margem
interna é formada por regiões semi-desérticas que fazem a transição para o
grande deserto Siro-Arábico. A Síria e a Palestina formam a parte mais estreita
desse crescente: entre o deserto e o Mediterrâneo, um corredor de menos de cem
quilômetros de largura faz a ligação entre a Mesopotâmia e o vale do Nilo.
Na área do Crescente Fértil ou em suas imediações
desenvolveram-se algumas das civilizações mais famosas da antigüidade, como a
suméria, a babilônica, a assíria, a persa, a egípcia, a hitita. Comparadas com
outras culturas, as civilizações do Crescente Fértil mostraram, muito tempo
antes do que em outras partes do mundo, um desenvolvimento singular, pelo fato
de ter ocorrido ali alguns fenômenos culturais da máxima importância. Um deles
é a revolução neolítica (ca. 7-8 mil anos a.C.). (http://greciantiga.org/his/his03-3a.asp)(http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/humanas/historia/tc2000/hisger1.pdf:
aula sobre o período pré-histórico). Ela consistiu na descoberta da técnica
da produção de alimentos. Enquanto que o ser humano do período paleolítico
vivia da caça e da coleta de produtos, no período neolítico a humanidade
tornou-se capaz de produzir sua alimentação, seja através da domesticação de
animais e da criação de rebanhos, seja através da “domesticação” das plantas,
pelo cultivo de cereais, leguminosas e frutas. Outras inovações vieram
complementar a anterior, como a descoberta da cerâmica (6000-4000 a .C.), de suma
importância para a vida cotidiana, e dos metais (5000-1000: cobre, bronze,
ferro), importantes como instrumentos de trabalho e armas de guerra. Um segundo
fenômeno cultural importante ocorrido no Crescente Fértil foi a “revolução urbana” (a partir de 3000 a .C.), que transformou
as aldeias em cidades-estado e criou as condições para outras descobertas.
Demos inicialmente alguma atenção à margem interna do Crescente
Fértil, formada pelo DESERTO
SIRO-ARÁBICO. Trata-se de um dos maiores desertos do planeta. Abrange a
maior parte da península arábica, assim como enormes superfícies dos atuais
Estados da Jordânia, da Síria e do Iraque. Seu índice de pluviosidade fica
abaixo dos 100 mm .
anuais e no verão a temperatura chega a 50 graus à sombra. Na costa do Mar
Vermelho, a península arábica tem cadeias de montanhas cuja altura pode chegar
a 3.900 metros
no Iêmen. A partir dessa cordilheira para o interior do deserto, as terras são
geralmente planas e argilosas, às vezes cobertas de pedregal, outras vezes por
solos arenosos com dunas.
O
deserto não é completamente estéril. Quando a chuva cai em alguns invernos, as águas formam rios temporários (wadis), às vezes de poucas horas, no leito dos
quais aparece depois uma vegetação estacional, que é o segredo da vida no
deserto. Para ali vão os beduínos com seus rebanhos, cuja subsistência depende
ao mesmo tempo do conhecimento de poços,
que nunca faltam no deserto e que fornecem a água para as pessoas e animais.
Não é raro que em torno de poços se formem oásis com vegetação abundante (http://www.voyagevirtuel.com/jordanie/jordanie-wadi-rum_53.php).
2.2 – ABRAÃO E O CRESCENTE
FÉRTIL
A
geografia bíblica não começa na Palestina, e sim, no vale do rio Eufrates, (http://www.arabias.com.br/cultura/civilizacao.htm), na extremidade
oriental do Crescente Fértil. Os mais antigos nomes de lugar identificados na
Bíblia são os que guardam relação com Abraão, em Gn 11.31, concretamente, Ur e
Harã. A existência de água nesta região determinou o estabelecimento de centros
agrícolas ou “sedentários”, condicionando ao mesmo tempo o traçado das rotas
comerciais utilizadas para o trânsito entre as grandes zonas exportadoras.
Veremos como os movimentos de Abraão coincidem com a mais importante rota de
caravanas que unia os dois extremos do Crescente Fértil, a Babilônia e o Egito.
No
extremo babilônico da lua crescente se encontrava Ur (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ur), que a Bíblia identifica como o lugar de
origem de Abraão (Gn 11.28-31). Alguns investigadores põem em dúvida a
exatidão desta notícia. De fato, não se menciona Ur na passagem correspondente
da LXX em Gn 11.28,31. Porém, mesmo que Abraão fosse oriundo de Harã, no
noroeste do vale, é provável que antes tivesse viajado para Ur, a sudeste, centro
cultual máximo para a antiguidade.
Esta
região da bacia do rios Tigre e Eufrates, perto do Golfo Pérsico, é chamada de TERRA DE SINEAR em Gn
10.10. Isto significa país dos sumérios, antigos ocupantes não semitas daquela
região. Perto de Ur se encontra Uruk, a
Ereque de Gn
10.10 (atual Warka), cujo rei Gilgamesh (ca. 2800 a . C.) se converteu em
herói de uma lenda sobre o dilúvio. Das escavações nesta localidade procedem os
mais antigos testemunhos conhecidos da escrita, o que sugere que este
importante avanço cultural pudesse ter-se originado naquela região.
A
partir de 2500a.C., os amorreus semitas (‘ocidentais”, por proceder do
sul da Arábia ou da Síria, ao noroeste) começaram a invadir o antigo território
dos sumérios. A mais antiga das dinastias estabelecidas nesta região teve seu
centro em BABILÔNIA, uns 250 km ao noroeste de Ur,
onde se construiu um famoso zigurate, um templo em forma de torre, com uma
série de plataformas escalonadas de ladrilho (confira Gn 11.4-9: a torre de
Babel) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Zigurate). A presença de Abraão
em Ur é freqüentemente associada às ondas de imigrantes amorreus que invadem a
Suméria. Chegou-se a pensar que Abraão seria contemporâneo de Hamurabi (http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_Hamurabi), o mais
importante dos monarcas babilônicos (ca. 1700), erroneamente identificado como
o Anrafel de Gn 14.1.
Passado
um milênio, Babilônia voltaria a ocupar um lugar importante na história
israelita, quando Judá foi levado para o cativeiro
babilônico (598 e 597 a .C.)
(http://www.painsley.org.uk/re/Atlas/babylemp.gif) (http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/humanas/historia/tc2000/hisger4.pdf: aula sobre a Mesopotâmia; excelente site com aulas
sobre história: basta alterar o número após hisger para acessar as outras aulas).
Em virtude de um destes contatos com o país
babilônico, Israel se familiarizou com a mitologia suméria da criação, o poema Enuma
Elish, do qual se podem tomar algumas imagens de Gn 1-2. (http://www.klepsidra.net/klepsidra23/gilgamesh.htm). O jardim
do Éden, de Gn 2.10-14, é concebido como um lugar úmido na confluência dos
rios Tigre e Eufrates, que aos parentes de Abraão, descalços e empoeirados,
recém chegados do deserto arábico, devia parecer um verdadeiro paraíso.
Bem
ao leste da região descrita fica a região montanhosa da PÉRSIA , cujo rei,
Ciro, seria o libertador dos judeus em 538, ao pôr fim ao cativeiro que
estes haviam sofrido na Babilônia (http://www.painsley.org.uk/re/Atlas/persemp.gif). O ambiente
cortesão da Pérsia e a religião deste povo, o zoroastrismo, formam parte do
cenário dos últimos livros do AT: Neemias, Ester, Daniel.
Em
sua viagem para o noroeste desde Ur, Abraão seguiu a rota que se estende entre
Mari e Nuzi. Em cada um destes centros, as escavações mais recentes têm dado a
conhecer milhares de documentos em tábuas de argila (só em Mari são cerca de vinte
mil), que ajudam a explicar muitas das tradições patriarcais de Gênesis. A
história de Mari, situada
junto ao rio Eufrates, está ligada ao nome de Hammurabi. Perto dos
modernos campos petrolíferos de Kirkuk, se encontra Nuzi. Entre
esta e Harã se estendia antigamente a região chamada Mitanni. Seus
habitantes se chamavam hurritas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Usu%C3%A1rio:Lenicio), que aparecem na Bíblia possivelmente com
o nome de hiveus ou hititas. Seus
documentos de negócios, que refletem o comércio que mantinham com mercadores
assírios, servem igualmente para ilustrar muitos costumes bíblicos da época
patriarcal.
Harã,
identificada na Bíblia como o lugar em que Abraão se assentou depois de ter emigrado de
Ur (Gn 11.31), é tida por alguns pesquisadores como o lugar de origem do
patriarca (http://pt.wikipedia.org/wiki/Har%C3%A3). As cidades desta
região levam nomes que são variantes dos que Gn 11 atribui aos parentes do
patriarca: Pelegue (v.16), Serugue (v.20), Terá e Naor (v. 24) e mesmo Harã
(v.27).
O
extremo do arco que forma o Crescente Fértil avança de Harã até o Eufrates, na
direção oeste. No lugar em que o rio cruza a atual fronteira turca se encontra Carquemis (2 Cr 35.20; Jr 46.2), posto avançado do Império hitita até 900 a . C. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hititas). Em 605 a .C. foi cenário da
batalha decisiva liderada por Nabucodonosor contra os assírios.
A
partir deste ponto, a rota de caravanas dobra bruscamente para o sul, seguindo
a linha Alepo-Hama-Damasco-Jerusalém. Alepo era uma antiqüíssima cidade, conhecida já
nos documentos de Mari com o nome de Iamhad (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alepo).
Junto à costa, a oeste de Alepo, estava a cidade-estado de Ugarit, a
moderna Ras Shamra. Os arquivos desenterrados aqui a partir de 1929 demonstram
que Ugarit era poderosa o bastante para firmar tratados com o Império hitita,
rival do Egito e da Síria. A língua em que estão escritos estes textos, o
ugarítico, tem grande importância para o estudo do hebraico primitivo. Outra
poderosa cidade-estado, mais ao sul e terra adentro, era Hamate (Gn 10.18;
Nm 34.8; Js 13.5; Ez 47.16; 2 Sm 8.9-10), atual Hama. Também Hamate foi palco
de batalhas decisivas, já que guardava a saída norte do vale formado pelas
cadeias montanhosas do Líbano e do Antilíbano. Esta “entrada de Hamate” é
considerada, em alguns textos, como o limite norte da terra prometida (Nm
34.8). Ainda mais antiga e importante era Damasco. Como
cidade bem abastecida de água e situada à borda do deserto, era a última
oportunidade para aprovisionar as caravanas. Surpreende que a Bíblia, ao descrever
o itinerário de Abraão (Gn 12.5), não mencione estes centros, dando um salto de
Harã para o centro do país cananeu, isto é, até o lugar que logo receberia o
nome de Samaria.
CANAÃ, a terra
prometida, era um país pequeno, à borda da ponta sudoeste do Crescente Fértil.
Mas ocupava uma posição estratégica entre os estados comerciantes rivais:
Arábia a sudeste, Egito à sudoeste, os hititas ao norte e Babilônia ao leste.
Considerando as linhas de tráfego e a densidade da população, Canaã pode ser
considerada o eixo do Crescente Fértil. Certamente foi o eixo de todo o mundo
conhecido desde os tempos de Abraão até os de Alexandre Magno.
Os
clãs de Abraão, em sua migração desde a Mesopotâmia, não reclamaram como sua, a
princípio, a terra de Canaã. Mas Abraão aparece com direito de assentar-se em
Canaã devido às experiências que teve em seus mais importantes centros de culto: Siquem, Betel, Hebrom
e Berseba. Na realidade, sua estadia na Terra Santa se reduziu a um
assentamento nômade na rota que levava ao término natural da viagem: o Egito.
Porém a migração que leva seu nome pode muito bem ter-se desenvolvido em ondas
sucessivas ao longo de várias gerações. Vistas assim as coisas, pode-se dizer
que ela só terminou após a ida de Jacó para unir-se com José no Egito (Gn
46.7). Resulta assim que a última parte da migração designada com o nome de
Abraão se integra naquele movimento que as notícias extra-bíblicas designam
como invasão dos hicsos. Hicsos é um termo egípcio que significa
“monarcas estrangeiros” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hicsos).
Alude aos imigrantes asiáticos que se instalaram no nordeste do delta do Nilo,
e desde sua capital, Avaris, governaram o Egito entre 1700 e 1570. Alguns
investigadores modernos opinam que em realidade não se tratou de uma invasão, e
sim de uma horda que se foi infiltrando pacificamente. Em sua maior parte eram
semitas, se bem que não falta quem sustente que, ao menos no que se refere à
sua casta governante, havia também entre eles elementos hurritas. Os parentes
de José, portanto, se instalaram na porção nordeste do delta, no território que
a Bíblia designa com o nome de Gósen (Gn 47.6). Ali, na ponta sudoeste do
Crescente Fértil, ia-se preparando o cenário do Êxodo.
2.3 – MOISÉS: O
EGITO E O ITINERÁRIO DO ÊXODO
O “povo de Deus” bíblico, seja quais
forem suas origens, parece que chegou a adquirir consciência de sua unidade
nacional devido em grande parte à experiência que muitos de seus componentes
tiveram no Egito. É neste ponto que muitos pesquisadores modernos põem o começo
da história e da geografia bíblica. Considera-se a história de Abraão
essencialmente como um relato de como algumas tribos semitas fizeram uma
migração com a finalidade de estabelecer-se no Egito. Este país, mais que um
“dom do Nilo”, como dizia Heródoto, é
o Nilo (http://www.bibleplaces.com/nileriver.htm). Ao longo
de suas margens se estende uma faixa de uns 8 km de largura em que se
desenvolve um intenso trabalho de cultivo.
No sul, em direção à primeira
catarata, a uns 800 km
em linha reta e a uns 1000
km seguindo o curso do rio a partir do delta ( note-se
que o rio Nilo flui para o norte), se achava Elefantina (http://pt.wikipedia.org/wiki/Elefantina http://www.ieab.es/elefantina.html), onde se instalou uma colônia judaica no
século V a.C.. Os papiros arameus ali descobertos lançam muita luz sobre o
período de Esdras e Neemias. Uns 160
km ao norte estava Tebas/Luxor/Karnak (http://es.wikipedia.org/wiki/Luxor http://es.wikipedia.org/wiki/Karnak), com seus magníficos templos, capital do
Egito durante a famosa dinastia XVII (1570-1310), cujos reis expulsaram os
hicsos e elevaram o Egito à categoria de grande império. A destruição deste
império pelos assírios em 663
a .C. encheu de espanto os judeus (Na 3.8= Tebas em
hebraico, e não Nô-Amom). Seguindo o curso do Nilo em direção ao norte, a uns 120 km de Tebas, onde o rio
descreve uma curva, se acha Chenoboskion (perto de Nag’-Hammadi), onde se encontraram importantes
documentos gnósticos coptas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nag_Hammadi).
Aproximadamente uns 200 km
mais ao norte, o Nilo passa junto a um lugar atualmente chamado de el-Amarna, a
antiga Ajetatón, capital do faraó monoteísta Akhenatón=Amenófis IV (1370-1353),
de cujos arquivos procedem as cartas de
el-Amarna referindo-se aos habirus (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cartas_de_el-amarna).
Mais ao norte, na margem oposta do Nilo, se encontrava Oxyrhynchus, onde
foram encontrados numerosos papiros da época do NT.
No vértice do delta, onde o Nilo se
divide em diferentes braços, se assentava Mênfis (Mof em Os 9.6; Nof em Is 19.13;Jr 2.16;
Ez 30.13), a mais antiga capital do Egito (http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%AAnfis) . Perto
dali, na direção norte, se achava Om/Heliópolis, pátria do sogro de José (Gn 41.45). Entre
Mênfis e Heliópolis havia um grande cemitério, com suas imortais pirâmides e as
esfinges (Cairo
surge apenas após a invasão muçulmana, sobre um antigo forte romano
chamado Babilônia, perto do local em que a lenda situa o término da viagem da
Sagrada Família ao Egito – Mt 2.14). Em tempos de Alexandre Magno , no
extremo noroeste do delta, se edificou a grande metrópole e porto marítimo de Alexandria (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria http://www.bibleplaces.com/alexandria.htm), onde se instalou uma forte comunidade judaica, que
produziu a versão grega de alguns livros hebraicos (a Septuaginta). Apolo, que deu continuidade ao trabalho de Paulo em
Corinto, é originário de Alexandria (At 18.24-28). Perto de Alexandria se
descobriu, em tempos de Napoleão, a famosa Pedra
de Roseta, que serviu para decifrar a linguagem egípcia (1799) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_de_Roseta).
Para a história do êxodo, datado
atualmente no século XIII, interessa sobretudo a porção nordeste do delta. Ramsés
II (ca.1290-1224) da dinastia XIX, deixou vários monumentos no vale do Nilo (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rams%C3%A9s_II), sobretudo em Tânis (a Zoã de Is
19.11; Ez 30.14; Sl 78.12). É muito verossímil que esta cidade tivesse ocupado
o lugar de Avaris, a
antiga capital dos hicsos quatrocentos anos atrás. Nm 13.22 relaciona sua fundação
com a de Hebrom e, por conseguinte, com os tempos dos patriarcas. Ramsés II
ou seu pai Seti( 1304-1290) reedificou aquele lugar e lhe deu o nome de Ramessés (Ex
1.11). Foi nesta região de Tânis/Ramessés (cf. Gn 47.6,11; Sl 78.12,43) que os
descendentes dos patriarcas sofreram a escravidão,
obrigados a trabalhar nos projetos monumentais do faraó. A terra de Gósen (Gn
45.10;47.11) se estendia ao sul, abarcando Maskute (provavelmente, a Sucote de Ex
13.20) e Pitom (Ex
1.11). Segundo documentos egípcios, o wadi
Tumilat, nesta região, era lugar freqüente de refúgio para os
asiáticos que fugiam de fome ou de condições políticas desfavoráveis.
A debatida questão da rota
do êxodo está intimamente
relacionada com a localização do monte Sinai. SINAI E HOREBE não são
montes distintos, e sim, nomes de um mesmo lugar que aparecem, respectivamente
nas tradições J e E-D do Pentateuco. Há pelo menos quatro possibilidades para
localizar esta santa montanha:
1)
Ao sul da península
do Sinai. O nome
mesmo desta península pressupõe como correta a tradição segundo a qual o Gebel Musa (Monte
Moisés), em cuja base se assenta o mosteiro de Santa Catarina, é o monte Sinai.
2)
Na Arábia (cf. Gl
4.25): A fumaça e o tremor de terra de que se fala em Ex 19.18 sugerem que
havia um vulcão em erupção, e o mais próximo é o Talt-Badr, na moderna Arábia,
bem a sudeste da península do Sinai. Ptolomeu, o antigo geógrafo, chamava a
esta região de Modiane, o que corresponde à Midiã de Ex 3.1. Apesar destes dois fatos
independentes em favor de Talat-Badr, parece que a Arábia fica demasiadamente
longe do Egito para ser o cenário do êxodo.
3)
Na Transjordânia: O nome
de Midiã se aplica a uma longa faixa de terra bem ao norte, até Galaade na
Transjordânia (cf. Jz 6). Uma possível localização do Sinai seria, nestas
paragens, Petra, já que
as cores de fogo de suas rochas eram objeto de veneração desde muito tempo. Há,
além disso, uma tradição árabe segundo a qual Aarão foi enterrado ali (Nm
20.28). Esta teoria, como a anterior, não conta com defensores na atualidade,
porque neste caso o Sinai ficaria demasiadamente a leste.
4)
No Negev: esta
hipótese situa a teofania do Sinai em Cades-Barnéia. De fato, a água que brota da rocha
e as murmurações do povo em Meribá durante a estada em Cades-Barnéia (Nm
20.13) são descritas em termos idênticos à narração do acontecido no Sinai
segundo Ex 17.7. O argumento tem convencido apenas a um pequeno número de
exegetas.
Duas são as possíveis rotas do
êxodo que merecem uma consideração atenta: a do norte, que corresponde
quase sempre à localização do Sinai segundo a teoria 4, e a do sul, de acordo
com a localização da teoria 1.
Em
primeiro lugar, a teoria da rota norte
sugere que os israelitas saíram de Tânis/Zoã diretamente para Cades-Barnéia,
cruzando pela região norte da península do Sinai (http://www.cpad.com.br/fotos/escola/mapas/Exodo-3.jpg). Este
seria o caminho mais curto e natural para ir do Egito à Palestina. Ela fica,
sem dúvida, explicitamente excluída por Ex 13.17, embora se possa entender a
referência aos filisteus como uma glosa anacrônica ( mesmo que os filisteus
pirateassem pela costa palestina já no século XIII, não parece que tivessem
tido um controle firme do sul de Canaã antes de 1180-1150, muito tempo depois
do êxodo). Se quisermos harmonizar a descrição bíblica dos lugares percorridos
durante o êxodo com a teoria da rota norte, temos que identificar o “mar dos Juncos” de Ex 13.18;14.22 (o texto
hebraico diz “mar de Juncos”; o “mar Vermelho” de algumas traduções procede da
LXX, que tentou identificar essa extensão de água com um lugar conhecido).
Poderia ser a parte mais meridional do lago
Mensale ou os vaus do lago Sirbone (perto do
Mediterrâneo, entre o Egito e Canaã). O Migdol de Ex
14.2 caía do lado egípcio do mar, e o texto hebraico de Ez 29.10 situa Migdol
no extremo nordeste do Egito, muito longe de Assuã. Cruzando os vaus desde Migdol estava Baal-Zefon (Ex
14.2), que significa “senhor do Norte”. O “norte”, a que faz referência este
nome, não é um indício concludente, já que esta designação parece corresponder
originariamente a uma elevada montanha da costa norte da Síria, o monte Cassio
ou Amano. Um destacamento de soldados fenícios poderia ter levado consigo este
nome da sua pátria para o Egito, aplicando-o em sentido irônico às colinas
baixas situadas a oeste de Sirbone (ao nordeste do atual canal do Suez),
chamada na época Pelusium e atualmente Farama.
Outras informações bíblicas estariam
mais de acordo com a rota sul, o que
implicaria um desvio muito ao sul para alcançar o monte Sinai segundo a teoria
1 (http://www.cpad.com.br/fotos/escola/mapas/Exodo-3.jpg). (W.F.
Albright trata de conciliar ambas as teorias, supondo que o êxodo seguiu uma
rota norte, desviando-se logo para o sul; outros pesquisadores sustentam que
houve vários êxodos, teoria que também se aplica à solução das discrepâncias
cronológicas e arqueológicas que suscitam o êxodo e a conquista da Palestina).
Seguindo um desvio para o sul, encontramos, na parte sul-central da Península
do Sinai umas inscrições de ca. de 150 d.C. em um dialeto árabe chamado nabateu. Elas testemunham que o vale
Mukkatab e o triângulo adjacente, que se estende uns 30 km para o Gebel Serbal e o
Gebel Musa, eram objeto de veneração religiosa. O Serbal, 20
km a noroeste do Sinai, é um monte majestoso em forma de
serra, que Jerônimo e alguns pesquisadores modernos têm por cenário da teofania
sinaítica. Mas não há em suas imediações nenhum lugar apto para acampar, como
parece exigir o relato bíblico. Junto ao “Sinai tradicional”, o Gebel Musa (http://www.bibleplaces.com/jebelmusa.htm), há um elevado precipício chamado Safsafa
que domina a vasta planície de er-Raha. A proximidade da água e o esplendor de
seus arredores têm convencido a maior parte dos exegetas modernos de que esta é
a montanha de Ex 19.2. Sem dúvida, a tradição grega relacionada com o mosteiro
de Santa Catarina desvia a atenção para o extremo oposto (leste) da cadeia
formada pelo Gebel Musa. De qualquer forma, está claro que as provas aduzidas
para esta localização não são muito firmes e não podem dar por finalizadas a investigação sobre o assunto.
Afirma-se que os israelitas , depois
da teofania do Sinai, caminharam sob as ordens de Moisés durante quarenta anos
em direção à Transjordânia. A rota do Sinai até Edom está assinalada duas vezes na
Bíblia: a primeira, com muitas minúcias, em Nm 33, e a segunda, mais
brevemente, em Dt 1. A
lista de lugares não nos ajuda muito, pois na maior parte eles nos são
desconhecidos. A Parã de Nm 12.16 e Dt 1.1 volta a aparecer como uma importante
montanha em Dt 33.2 e Hc 3.3. Está fora de dúvidas que seu nome sobreviveu no
do oásis de Feirã, perto do Gebel Serbal, mas a Bíblia supõe uma localização no
deserto ao sul do mar Morto, chamado Arabá. A principal discrepância entre
ambas as listas de lugares se refere a Eziom-Geber (que 1 Rs 9.26 situa junto a Elate,
na margem do mar dos Juncos, no território de Edom) . De Dt
2.8 pode-se depreender que os israelitas chegaram a este porto somente depois
de terem partido de Cades-Barnéia em direção à Arabá, que forma o costado
ocidental de Edom. Mas Nm 33.36 situa claramente o acampamento em Eziom-Geber antes de Cades-Barnéia e Edom.
Antes de passarmos a examinar em
detalhes a geografia da Transjordânia,
convém mencionar, ainda que brevemente, o problema da continuação do êxodo para o monte Nebo, situado
no extremo nordeste do mar Morto, onde Moisés morreu e foi sepultado (Dt 34.5).
Havia três possíveis rotas para o norte partindo de Eziom-Geber, junto ao Golfo
de Ácaba, em direção às montanhas da Transjordânia, ao leste do Mar Morto
1) A rota mais ocidental ia diretamente para o
norte através da depressão do Arabá, para dobrar ao sul do mar Morto e entrar
nas terras altas, passando ao longo do limite entre Edom e Moabe.
2)
A rota central e mais cômoda era a que seguia do golfo de Ácaba para a direção
nordeste e através do wadi Yetem, desviando-se logo para o norte para alcançar
a Estrada Real (Nm 20.17), que avançava ao longo da meseta montanhosa que
formava o espinhaço de Edom e Moabe.
3)
A rota mais oriental ou caminho do deserto, ao qual se chegava também pelo wadi
Yetem, mas dobrando logo para o leste e adentrando no deserto antes de dobrar
de novo para o norte rodeando Edom e Moabe pelo leste.
A passagem pela rota 2, a mais cômoda, foi trancada
pelo rei edomita (Nm 20.14-21). Segundo a tradição P, parece que Israel seguiu
a rota 1, pois em Nm 33.42 encontramos os israelitas atravessando para o norte
pelo Arabá, em direção a Punom, onde parece situar-se o episódio da
serpente de bronze (Nm 21.4). Segundo Nm 21.10-13, parece que dobraram logo
para o leste, passaram através do vale de Zerede, saindo logo para o deserto
depois de seguir a linha divisória entre Edom e Moabe. Sem dúvida, Dt 2.8
indica que Israel não utilizou a rota do Arabá, e sim a rota 3. Está fadado ao
fracasso o intento de seguir uma das rotas? Ou será que houve várias rotas
seguidas por grupos distintos, analogamente às diferentes rotas do êxodo? Em
qualquer caso, o certo é que os israelitas chegaram à terra prometida após peregrinar
vários séculos, que os levou de
um extremo a outro do Crescente Fértil, para então voltar, em parte, um trecho
do caminho percorrido.
III – GEOGRAFIA DA PALESTINA
3.1 – CONFIGURAÇÃO E CARACTERÍSTICAS
A região que vamos descrever agora é uma estreita
faixa de terra que mede entre 320 e 380
km de Dã, no norte, até o limite
com península do Sinai, ao sul (de Dã a Cades-Barnéia= 320 km ; de Dã a Eilat=380
km). Está incluída nestas dimensões a vasta extensão do deserto do Negev, um
território que teve grande importância na história israelita, mas que não pode
ser considerado propriamente como pertencente àquela nação. Se ficarmos com a
expressão bíblica clássica “de Dã até Berseba”(1 Sm 3.20; 2 Sm 3.20; 17.11;
24.2,15;1 Rs 5.5; Jz 20.1; 1 Cr 21.2; 2 Cr 30.5), a longitude máxima do país
israelita seria de apenas 240
km . A largura da costa mediterrânea até a depressão do
Jordão varia entre uns 50 km
ao norte e uns 80 km
na altura do mar Morto. Estritamente falando, os 30 km de meseta montanhosa
que se estendem pela Transjordânia, a leste do rio Jordão, não se deveria
considerar como território israelita. Israel, por conseguinte, abarcaria uns 23.000 km quadrados,
equivalente a Sergipe, o menor Estado brasileiro. A história bíblica
desenvolveu-se num cenário muito pequeno. As capitais da monarquia dividida,
Samaria ao norte e Jerusalém ao sul, distavam uns 55 km entre si.
Teremos que ocupar-nos também com o
Negev e a Transjordânia junto com o Israel propriamente dito. Esta área mais
ampla se presta a uma divisão em quatro faixas quase paralelas no sentido
norte-sul (http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/TS/indexEs.html).
Enumeradas do leste para o oeste, são elas: 1) As montanhas da Transjordânia;
2) A depressão do vale do rio Jordão; 3) As montanhas da Palestina ou
Cisjordânia; 4) A planície costeira do Mediterrâneo (http://www.cpad.com.br/fotos/escola/mapas/Relevo-Palestina.jpg ).
Originalmente
ambas as cadeias de montanhas (1 e 3) formavam uma só. Separaram-se em conseqüência
de um afundamento da crosta terrestre na direção norte-sul. Esta falha tectônica é conhecida como Rift Valley. Ela faz
parte de um sistema que afunda a crosta terrestre desde a costa sudeste da
África, passando pela região dos grandes lagos (Niassa, Tanganica e Vitória),
continua pelo Mar Vermelho e pelo golfo de Ácaba, continua em linha reta pelo
norte, atravessando a Palestina, o Líbano e a Síria até penetrar na meseta da
Anatólia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_do_Rift).
Em todo o percurso asiático, o vale formado
por essa falha geológica é cercado por cadeias de montanhas: Na Síria, o VALE DE GHAB é
ladeado pelas cordilheiras do Anshariyeh (perto da costa mediterrânea) e do
Jebel Zawiyeh (voltado para o Grande Deserto. No Líbano, o VALE DE BEQAA é
cercado pelas cordilheiras do Líbano (junto ao mar) e do Antilíbano(em direção
ao deserto). Ao pé dessas duas
cordilheiras, cujas alturas máximas são 3000 m . acima do nível do mar, nascem os rios
que se alimentam das águas e neves das montanhas: o rio Litani, cujas
águas descem para o sul para depois dobrar para o oeste e desembocar no
Mediterrâneo ao norte de Tiro. O rio Orontes se dirige para o norte,
atravessando os vales de Beqaa e Ghab, desembocando no Mediterrâneo perto da cidade turca de Antioquia. As duas cadeias
de montanhas que constituem as faixas 1 e 3, na Transjordânia e na Palestina,
são, respectivamente, o prolongamento das montanhas do Antilíbano e do Líbano,
na Síria.
Na
Palestina, o afundamento da faixa 2 formou a depressão do Jordão (Ghor, em
árabe), pela qual fluem agora as águas do rio Jordão, desde as montanhas do
Líbano até o mar Morto, no sul.
É
possível que algumas montanhas da Palestina tenham tido alguma vez uma atividade vulcânica. A leste da
Palestina, o Gebel
Druze apresenta algumas mostras vulcânicas em forma de lava ou basalto
espalhados sobre Basã e sobre a parte leste do deserto da Transjordânia. Em Callirhoe, junto à
margem oriental do Mar Morto, há mananciais térmicos que demonstram a
existência de certa atividade ígnea no subsolo. Há provas claras de que na
antiguidade houve vários terremotos (Am
1.1). A arqueologia demonstrou que o mosteiro de Qumrã, dos essênios, foi
destruído por um terremoto (por volta de 31 a .C.), tendo sido reconstruído durante o
governo de Arquelau, no início da era cristã. Também em época recente houve
vários terremotos (Safed em 1837; Nazaré em 1900, Jafa em 1903; Jericó em
1927).
3.2 – CLIMA
O
clima varia segundo as características de cada região: a costa, as montanhas, a
depressão do Jordão. Fundamentalmente o ano se divide em duas estações: o
verão, quente e seco, e o inverno, frio e úmido. A costa da Palestina é quente
(de 10 a
15 graus no inverno e de 27 a
32 graus no verão). Nas montanhas, a temperatura é uns 5 graus mais baixa que
na costa, com grandes diferenças entre o dia e a noite. No verão, nas montanhas
(Jerusalém, por exemplo) as temperaturas são de 30 graus durante o dia e de 18
graus durante a noite. Nas montanhas, o mau tempo não se deve à umidade, como
ocorre na costa, e sim, aos fortes ventos:
o vento que arrasta as chuvas procede do Mediterrâneo, e o vento abrasador
(siroco ou khamsin), vem do deserto nos meses de maio e outubro (Is 27.8; Jr
4.11). Jesus conhecia a ambos (Lc 12.54-55), e durante o inverno passava pelo
único pórtico do templo que oferecia uma proteção (Jo 10.22-23). A depressão do
Jordão, que está muito abaixo do nível do mar (Jericó, por exemplo), se vê
submetida a um intenso calor durante o verão (uns 40 graus), mas no inverno
possui uma estação muito agradável.
Também as chuvas
variam na Palestina segundo a região (http://www.cpad.com.br/fotos/escola/mapas/Relevo-Palestina.jpg). Quanto
mais próximas do Mediterrâneo, mais chuvas as terras recebem, pois as montanhas
atuam como uma barreira que detém os ventos úmidos do mar e as faz descarregar
sobre as ladeiras ocidentais. As ladeiras voltadas para o oriente, portanto,
são mais secas. Berseba, no
Negev, registra uma média de 143
mm . cúbicos de chuva por ano, Jerusalém alcança
583, mas quase toda esta quantidade de chuva cai entre dezembro e março. Ano
promissor é aquele em que as chuvas precoces ou de outono começam a cair em outubro,
no tempo da semeadura, e a chuva tardia ou de primavera, em março ou abril,
pouco antes da colheita. São numerosas as alusões bíblicas a estes dois tipos
de chuvas: Dt 11.14; Os 6.3; Jr 5.24; Jl 2.23. Há que se ter em conta que as
chuvas não se concentram exatamente nos dois períodos mencionados, e sim,
tendem a distribuir-se no período intermediário. Os meses de verão, de junho a
setembro, costumam ser extremamente secos, exceção feita a uma ou outra
tormenta na costa. As chuvas não possuem nada de extraordinário para os
ocidentais, mas para os israelitas recém chegados do Egito ela devia causar uma
grande impressão, pois lá as águas vêm do Nilo, e não do céu (Dt 11.10-25). A neve não é desconhecida nas montanhas da
Palestina, por exemplo, em Belém, Jerusalém ou Hebrom (http://www.bibleplaces.com/jerusalemsnow.htm). Na
Transjordânia, as nevascas às vezes chegam a bloquear as estradas.
O
caráter sazonal das chuvas significa que é preciso guardar água em cisternas (Gn 37.22; Pv 5.15; Jr 38.6),
com vistas à estação seca, a menos que uma cidade seja tão afortunada que conte
com um manancial nas imediações, como a fonte Gihon em Jerusalém, para dispor
de “água viva” (daqui as imagens de Ez 47.1; Zc 13.1; Jo 4.10-14). Um acidente
característico da Palestina é o wadi, leitos
temporários de água, secos no verão, e que transportam torrentes de água
durante as chuvas de inverno. Quando estão secos, estes wadis servem de
caminhos para subir dos vales para as montanhas. São muito escassos os vales
que contam com um curso permanente de água.
Ocupemo-nos
agora com as quatro faixas de terra no sentido norte-sul. Vamos começar com a
região montanhosa da Transjordânia, descrevendo-a de sul a norte, de acordo com
a etapa final do êxodo, que proporcionou a Israel o primeiro contato com esta
região.
3.3 – AS QUATRO
FAIXAS PARALELAS NO SENTIDO NORTE-SUL
3.3.1 – A
TRANSJORDÂNIA
As
montanhas da Transjordânia são mais elevadas que as da Palestina. Estão
cortadas de leste a oeste por tremendas gargantas ou cânions, que conduzem
ribeiros permanentes de água. Enumerados do sul para o norte, são eles: o Zerede (Nm 21.12; Dt 2.13), que desemboca no extremo sul do Mar
Morto; o Arnom (Nm
21.13; Dt 3.16), que desemboca na metade do mar Morto, 12 km ao sul da fortaleza
herodiana de Maquerus e que formava a fronteira sul da Peréia no período do NT;
o Jaboque (Gn 32.22), que desemboca no rio Jordão,
na metade do vale de mesmo nome (http://www.bibleplaces.com/jabbok.htm);
e o Jarmuque, que desemboca 6 km ao sul do mar da
Galiléia. Estas gargantas serviam muitas vezes de fronteiras naturais às
antigas populações da Transjordânia.
As
montanhas do sul da Transjordânia, que constituem os antigos domínios de Edom,
começam a uns 30 km
a nordeste de Eilat, no golfo de Ácaba. A rota vai seguindo o wadi Yetem, que forma uma passagem através
das montanhas graníticas de Midiã. Logo cruza o Hasma para as montanhas de EDOM. É um
lugar fantástico, mais próprio da superfície lunar que da terrestre: uma grande
planura de areia da qual se destacam, isolados, picos de rochas arenosas,
cortadas por precipícios enorme (http://www.bibleplaces.com/edom.htm).
A região mais famosa do Hasma é o wadi Rum, a
região em que se movia Lawrence da Arábia, no qual os picos se elevam
bruscamente a 800 metros
sobre o nível do vale(http://www.bibleplaces.com/wadirum.htm).
A
meseta montanhosa de EDOM se leva
a mais de 1600 metros ,
com um comprimento de uns 110
km de norte a sul e uma largura de cerca de 25 km . No oeste, as montanhas
estão cobertas por uma vegetação raquítica, alimentada pelas últimas gotas de
chuva que as nuvens provenientes do Mediterrâneo deixam cair. Nesta parte, a
inclinação forte em direção ao vale do Arabá (o prolongamento da depressão do
Jordão ao sul do mar Morto) oferecia uma defesa natural. Para o leste, as
montanhas baixam suavemente para o deserto, e este lado tinha que ser protegido
por fortificações. Ao menos durante parte de sua história o limite norte de
Edom foi o Zerede ou o
arroio dos salgueiros (Is 15.7), tendo em frente a Moabe (Nm 21.12; Dt 2.13).
Grande parte destas mesetas de Edom estão formadas por rochas arenosas,
facilmente atacáveis pela erosão. No sul de Edom, Petra, a cidade de cor rosa escavada nas rochas
arenosas e antiga capital dos árabes nabateus merece ser citada como uma das
maravilhas do mundo (http://www.bibleplaces.com/petra.htm).
A
meseta de Edom pode ser dividida em duas partes desiguais pela baixada de PUNOM, 40 km a sudeste do mar Morto,
pela qual o vale do Arabá adentra uns 15 km nas montanhas até
formar uma passagem muito estreita. A região situada ao sul de Punom é mais
elevada, e nela estavam situadas as fortalezas edomitas de Temã (Jr 49.7) e Selá, praticamente inexpugnáveis ( discute-se
acerca da localização de Selá; há que pôr em dúvida a tradição popular que a
identifica com Umm el-Biyara, no centro de Petra). Ao norte de Edom, as cidades
principais eram Bozra (Gn 36.33; Mq 2.12) e o rico centro
agrícola de Tofel (Dt 1.1). A Bíblia une seguidamente as
cidades de Bozra, no norte e Temã, no sul, para designar a totalidade de Edom
(Gn 36.33-34; Jr 49.20-22; Am 1.12).
Os
montanheses da meseta edomita, que moravam “nas tendas das rochas”(Ob 3) não
podiam manter-se só à base da agricultura e da criação de gado. Extraíam cobre
de suas montanhas e exigiam taxas das caravanas que seguiam pela estrada real
em direção ao norte, atravessando sua meseta (http://www.bibleplaces.com/punon.htm). Este contato permanente
com estrangeiros pode ter contribuído para dar-lhes a fama de sábios ( Jr
49.7).
O
território de
MOABE, em sentido estrito, perece que se estendeu entre os ribeiros Zerede e
Arnom (Dt 2.24;Nm 22.36), a leste, portanto, da metade sul do mar Morto. Porém
Moabe muitas vezes estendeu suas fronteiras para além do rio Arnom, de modo
que, como no caso de Edom, se pode falar de uma Moabe do Norte e de uma Moabe
do Sul, com o Arnom como o limite entre ambas (Jr 48.20 implica que o Arnom era
o traço geológico mais característico de Moabe) (http://www.bibleplaces.com/moab.htm). No sul, a cidade mais
importante era Quir-Heres (2 Rs 3.25; Is 16.11), a moderna Kerak,
impressionante fortaleza natural situada sobre uma colina isolada. Atualmente
ela está coroada por um castelo dos cruzados, testemunho mudo de que desde os
tempos bíblicos até a primeira guerra mundial esta foi uma das mais importantes
praças fortes de toda a Palestina. Em 2 Rs vemos como esta fortaleza moabita
fez frente às forças reunidas de Israel e Judá.
Na parte norte de Moabe, Aroer (Dt 2.36) dominava pelo lado norte a
grande garganta do Arnom, com desníveis de mais de 700 metros de
profundidade. Oito km mais ao norte se encontra Dibom (Nm 21.30), a atual Dhiban, cidade
importante cujos muros foram recentemente escavados. Mais ao norte, numa rica
planície, estava Madeba (Is 15.2), famosa por causa do mapa em mosaico nela
encontrado em fins do século XIX. (http://www.bibleplaces.com/madabamap.htm). Mesa, rei de Moabe,
se gloria de havê-la reconquistado de mãos israelitas, na estela que erigiu em
Dibom para comemorar suas vitórias (a “pedra
de Moabe”, uma pedra de basalto negro de ca. 830 a . C., encontrada em 1868
nas ruínas de Dibom) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_Moabita).
Ao norte, a passagem para Moabe estava protegida pela fortaleza de Hesbom ( Is 15.4;16.8-9).
Uns 8
km a oeste de Madeba e Hesbom, dominando o mar Morto,
estava o lugar de onde Moisés contemplou panoramicamente a terra prometida e
onde também morreu, chamado de monte Nebo na tradição P (Dt 32.49) e Pisga na E (Dt
34.1) (http://www.davidguerrero.com/viajes/orientemedio2003/montenebo/index.html http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/Giord/04bGiordEs.html#Nebo).
Possivelmente se trata de dois promontórios de uma mesma montanha. Nos tempos
do NT, a sudoeste do Nebo e perto do mar Morto, estava a fortaleza de Maqueronte, um pico
isolado que Herodes Magno converteu em fortaleza inexpugnável. Segundo o
historiador judeu Flávio Josefo (Ant.18.5,2) ali João Batista encontrou
a sua morte (Mc 6.14-29) (http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/Giord/05GiordEs.html).
Nas fontes termais situadas nas proximidades, em Callirhoe, Herodes buscou alívio para a sua
enfermidade (http://www.bibleplaces.com/callirhoe.htm).
Como
dissemos, a ocupação dos territórios situados ao norte do rio Arnom pelos
moabitas nem sempre foi reconhecida por outras populações. Assim, por exemplo,
quando Moisés conduziu a Israel através da Transjordânia, os amorreus haviam
ocupado Hesbom e os territórios mais ao sul, até o rio Arnom, incendiando
Madeba e saqueando Dibom (Nm 21.26-30). Em seguida, parte dos territórios moabitas
do norte foram ocupados pela tribo de Rúben (Nm 32.37; Js 13.9), mas
esta tribo foi rapidamente destruída por uma agressiva expansão de Moabe, que
chegou inclusive a Jericó, atravessando o Jordão (Jz 3.12ss;Gn 493-4). Há que notar-se
que as planícies de Moabe, onde os israelitas acamparam antes de cruzar para
Jericó, não estava situada na meseta moabita, e sim, no vale do Jordão, no nordeste do mar Morto.
O
território da meseta moabita é muito diferente dos difíceis promontórios
meridionais de Edom. Mesmo que certos cultivos, como o trigo ou a cevada, só
sejam possíveis em uma zona muito reduzida, principalmente na parte norte do
território, a meseta oferece boas pastagens. Inclusive em nossos dias, as
negras tendas dos beduínos marcam o país, assinalando os lugares em que
apascentam seus rebanhos. Economicamente são descendentes de Nessa, rei de
Moabe, que “era pastor de ovelhas e tinha que entregar todos os anos ao rei de
Israel cem mil cordeiros e a lã de cem mil carneiros” (2 Rs 3.4). Quando Rúben ocupou o território moabita, teve tanto
trabalho com o gado, que não pode prestar ajuda a seus parentes das outras
tribos em tempos de guerra (Jz 5.16). A riqueza de Moabe talvez explique o
orgulho de que Jr 49.26 e Is 25.10-11 acusam a seus habitantes. Gn 19.37 faz os
moabitas descender da união incestuosa de Ló com sua filha primogênita. Rute,
bisavó de Davi e da linhagem de Jesus, era moabita (Rt 4.5,17; Mt 1.5).
Ao
norte de Madeba e Hesbom se estende a longa faixa de terra de Gileade, paralela
a grande parte da depressão do rio Jordão, entre o mar Morto e o lago da
Galiléia. Antes de estudarmos esta região, demos uma olhada em AMOM,
território situado a leste de Gileade e a nordeste de Moabe do norte. Ali os
amonitas se estabeleceram numa zona mal definida de terra que ia desde o rio
Jaboque, no norte, até, em ocasiões, o Arnom, no sul, quando Moisés introduzia
os israelitas na Transjordânia (Jz 11.13). Amom parece o mais débil dos reinos
que temos estudado. Para se ter uma idéia da situação flutuante da fronteira,
basta notar que, ao atacar o reino amorreu de Hesbom (que depois passaria a ser
território de Rúbem), Israel não pensava atacar nem a Moabe nem a Amom, se bem
que ambos os povos reivindicassem aquele território. Note-se que Js 13.25
caracteriza o território de Gade, sul de Gileade, como país amonita.
Se
as fronteiras de Amom estavam confusas, sua capital era indiscutivelmente Rabat-Amom (em
tempos do helenismo, Filadélfia da Decápolis, atualmente Amã, capital da Jordânia). (http://www.bibleplaces.com/amman.htm). A formidável cidadela
montanhosa desta localidade ofereceu enérgica resistência ao exército de Davi
(2 Sm 11.14-21; cf. Am1.14). Em tempos posteriores, ca. de 400 a .C., Tobias, o amonita,
grande inimigo de Neemias ( Ne 4.1;6.1-17;13.4), parece ter estabelecido seu quartel general numa
fortaleza chamada agora Araq el-Emir, que foi recentemente escavada.
O país de Amom, encerrado entre as montanhas do sul de
Gileade e o grande deserto, era um planalto. Seu território mais fértil era o vale do rio Jaboque superior, rio que nasce perto de
Rabat-Amom e avança para o norte antes de dobrar para o oeste em direção ao
vale do Jordão (http://www.bibleplaces.com/jabbok.htm).
Os amonitas, que haviam se apossado por força desta região, se viam obrigados a
defendê-la constantemente de saqueadores procedentes do deserto (o mal que
ameaça os amonitas em Ez 25.4-5). Se bem que nunca foram muito fortes, os
amonitas puderam organizar às vezes rápidos ataques contra tribos israelitas
(Jz 10.9; 1 Sm 11.1; Am 1.13; 2 Rs 24.2; Jr 40.14). Quando tinham que enfrentar
um Israel unido, precisavam de ajuda alheia (2 Sm 10.6). Amom estava submetida
a Israel durante longos períodos (2Sm 12.31; 2 Cr 27.5). Segundo 1 Rs 11.7, sua
religião exigia sacrifícios humanos ao deus Moloque.
Quanto
à GILEADE, o rio
Jaboque, em sua descida desde as montanhas da Transjordânia para o vale do
Jordão, divide este território em duas partes. A parte do sul, conquistada do
rei amorreu de Hesbom (Dt 2.36; Js 12.2) foi concedida à tribo de Gade. A parte
norte, tomada do rei de Basã (Dt 3.10;Js 12.5) foi concedida a uma parte da
tribo de Manassés( cf. Dt 3.12-13; Js 13.25,31, se bem que o limite entre as
tribos, assim como aparece na Bíblia, apresenta muitas vezes uma evolução
histórica mais complicada do que supõem os relatos).
Gileade
tem uma configuração oval, de uns 55-65 km no sentido norte-sul e 40 km no sentido leste-oeste.
A meseta montanhosa tem aqui uma forma de cúpula , chegando a elevar-se a 1.100 metros . Devido à
sua altitude, recebia chuvas abundantes graças às nuvens que, procedentes do
Mediterrâneo, chegavam até aqui no inverno. As colinas de pedra armazenam água
e isso dá origem a abundantes mananciais. Antigamente, Gileade, especialmente o
norte deste território, estava coberto de abundantes bosques (Jr 22.6; Zc
10.10). Era famoso o bálsamo que se obtinha das árvores de Gileade (Jr
8.22;46.11), que se exportava para a Fenícia (Ez 27.17) e para o Egito (Gn
37.25). Também abundavam os vinhedos neste região. Extraia-se minerais de sua
montanhas e os bosques proporcionavam abundante combustível para suas
fundições.
O
país era exposto a contínuos ataques dos amonitas pelo sul e dos arameos pelo
norte. Da campanha de Gideão, temos notícias de cidades importantes de Gileade,
como Sucote e Penuel, ambas situadas nas imediações do Jaboque. Sucote poderia
ser Tell Deir-Alla, um enorme montículo
situado na conjunção dos vales do Jaboque e do Jordão. Escavações recentes
sugerem que houve uma conquista israelita por volta de 1200 e uma ocupação
filistéia posterior. Até agora não se tem provas de que os filisteus chegaram a
controlar tão grande extensão no vale do Jordão. Penuel, muitos quilômetros a leste do vale do
Jaboque, é o lugar da luta sustentada por Jacó com um anjo (Gn 32.30-31). Ao
que parece, serviu de capital ao reino norte nos tempos de Jeroboão I (ca.915;
1 Rs 12.25). Maanaim, outro
importante centro de Gileade (Gn 32.2), ao sul do Jaboque, foi a “capital do
exílio” de Is-Bosete, filho de Saul (2 Sm 2.8). Uma das razões para se
estabelecer estas capitais provisórias em Gileade era que a configuração do
terreno dava vantagens ao movimento de pequenas tropas em relação a exércitos
maiores, de tal modo que este país converteu-se num lugar de refúgio, por
exemplo, para Davi, quando fugia de Absalaão (2 Sm 17.24) (http://www.bibleplaces.com/gileadlower.htm).
Jabes-Gileade, importante cidade situada ao norte do território,
mantinha, ao que parece, estreitas relações com Benjamim, instalado na outra
margem do Jordão (Jz 21.5-12; 1 Sm 11) (http://www.bibleplaces.com/gileadlower.htm). Ramote-Gileade, a
leste, cidade levítica de refúgio (Dt 4.43), desempenhou importante papel nas
guerras do século IX entre Israel e os arameus da Síria (1 Rs 22; 2 Rs 8.28).
Nos tempos do NT, Gerasa (Mc 5.1-20) (http://www.bibleplaces.com/gerasa.htm)(http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/Giord/01GiordEs.html#Jerash), uns 8 km ao norte do Jaboque, e Gadara (Mt
8.28-34) (http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/Giord/02GiordEs.html#Gadara),
no extremo noroeste de Gileade, com uma vista impressionante sobre o rio
Jarmuque, eram importantes cidades da Decápolis. Pela (http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/Giord/01GiordEs.html#Pella), no vale do Jordão e ao pé das montanhas
do norte de Glieade, era outra cidade da Decápolis, que, segundo Eusébio de
Cesaréia, serviu de refúgio aos cristãos palestinenses no tempo da guerra
judaica contra os romanos (66-70 d.C.).
Poucos
quilômetros ao sul do Jarmuque, as montanhas de Gileade descem suavemente e
formam uma meseta muito fértil. São os campos de BASÃ, conhecidos
atualmente como as colinas de Golam (http://www.bibleplaces.com/golanheights.htm). Eles iniciam às margens do rio Jarmuque, seguem paralelos
ao lago de Genezaré, alcançam o pé do
monte Hermom no norte, e a leste vão até as negras montanhas vulcânicas do
Gebel Druze.Aqui as chuvas são suficientes, pois as colinas baixas da Galiléia
não chegam a impedir a passagem das
nuvens procedentes do Mediterrâneo, que podem regar os campos de Basã. Em muitas partes desta região, o solo é
formado por ricos depósitos vulcânicos. Ao juntar-se a água das chuvas e a
fertilidade do solo, Basã se converte em região produtora de grãos, que
abastece de trigo a esta região, além de possuir boas pastagens para o gado. A
gordura dos animais de Basã tornou-se proverbial na Bíblia (Sl 22.12; Am 4.1;
Ez 39.18). Para o leste, nas ladeiras do Gebel Druze, cresciam robustos
carvalhos, de modo que Basã era comparada com o Líbano pelo esplendor de suas
árvores (Is 2.13; Na 1.4; Ez 27.6;Zc11.1-2). Os bosques de Basã serviam muitas
vezes de refúgio a quem se encontrava em apuros (Sl 68.15,22; Jr 22.20).
São
escassas as referências bíblicas a lugares concretos de Basã, pois Israel só
controlou este território em momentos de maior esplendor. Uma das cidades de Ogue,
rei de Basã, era Salcá (Dt 3.10, a moderna Salkhad), no Gebel Druze, e Edrei ( a
moderna Der’a), situada mais a oeste, onde teve lugar a vitória de Moisés sobre
Ogue (Nm 21.33-35). Nos tempos de Davi, o reino arameu de Gesur se
estendeu até ocupar a porção de Basã, perto do lago da Galiléia. Este reino foi
submetido por Davi, e dali procedia a princesa que foi mãe de Absalão ( 2 Sm
3.3;13.37-38). No século IX, Basã foi cenário de lutas entre Israel e os sírios
de Damasco (2 Rs 10.32-33). Nos tempos dos macabeus, houve lutas neste
território, quando Judas acudiu os judeus estabelecidos em Bosor, Bosra e Carnain ( 1 Mac 5.24-52).
Na
época do NT, várias cidades que integravam a DECÁPOLIS (Hipos, Diom, Rafana) estavam
situadas em Basã. GAULANITES (ao norte de Basã) e TRACONITES (a leste)
formavam parte da Tetrarquia de Filipe (Lc 3.1). Atualmente, as ruínas das
cidades, edificadas com pedras basálticas (Umm el-Jimmal) se elevam como negros
monumentos à glória do passado (http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/Giord/02GiordEs.html#Umaljimal).
3.3.2 A
DEPRESSÃO DO JORDÃO
A
segunda faixa que caracteriza as terras bíblicas em sentido norte-sul é a
depressão do rio Jordão. Vamos acompanhá-la a partir do norte. No moderno
Líbano, as cadeias de montanhas do Líbano e do Antilíbano, que se estendem na
direção norte sul, se encontram separadas pelo fértil vale de BEQAA, formado
pela falha que separou as duas montanhas, e que na atualidade é um vale elevado
que alcança de 500 a
1000 metros
de altitude. Em meio a este majestoso vale estão as ruínas da cidade
helenística de Baalbeq, um dos
atrativos turísticos do Oriente Próximo. Hoje, tal como nos tempos antigos, a
fronteira norte de Israel coincide com o impressionante local em que o vale de
Beqaa dá lugar à grande depressão do Jordão, em uma abrupta queda de 400 metros até a
depressão do lago de Hule. Antigamente, este território no extremo norte de
Israel pertencia à tribo de Dã, de onde a expressão “de Dã até Berseba” servia
para assinalar os limites da nação israelita. Dominando a cena se eleva o monte Hermom, coberto
de neve, e que forma o extremo sul do Antilíbano, com seus 2750 metros de altitude
(http://www.bibleplaces.com/mthermon.htm). Os árabes chamam
este pico de “el Sheik”, pois suas neves perpétuas se assemelham a um albornoz
branco de um notável. Na antiguidade era chamado de Siriom pelos fenícios e
Senir pelos amorreus (Dt 3.9). Israel o compara a uma sentinela que monta
guarda sobre sua fronteira norte (Dt 4.48; Ct 4.8).
3.3.2.1- As
fontes do Jordão e o vale do Hule
O
rio Jordão nasce à sombra do monte Hermom, de
quatro correntes alimentadas por
águas recolhidas nas montanhas do Líbano. Duas destas correntes, o Bareighit e
o Hasbani, descem do vale de Beqaa, formando cascatas. No Sl 42.6-7 se canta a
beleza desta região, com seus saltos de água e seus turbulentos arroios na
primavera. Os dois afluentes mais
caudalosos, o Liddani e o Banyasi, brotam ao pé do Hermom, perto da cidade de Dã ( a
moderna Tell el-Qadi)( http://www.bibleplaces.com/dan.htm)
e Cesaréia de Filipe (Banias) (http://www.bibleplaces.com/banias.htm). Jz 18 nos informa que
Dã se adonou desta região de bosques e mananciais quando a tribo avançou para o
norte da Palestina central. A cidade de Laís (leão em
hebraico), mencionada neste relato, talvez seja uma reminiscência da abundância
de feras naquela região (Dt 33.22). O santuário de Dã, importante centro de
culto da época dos juízes ( Jz 18.30; Am 8.14), foi um dos santuários oficiais
do reino do norte (1 Rs 12.29; 2 Rs 10.29). Abel-Bete-Maaca, localizada no extremo norte de
Dã, foi o lugar em que se encontraram os elementos revolucionários opostos ao
reino do sul (2 Sm 20.14-22). A ressonância religiosa de Dã se prolonga até os
tempos do NT, pois Pânias (a moderna Baniyas) era um centro de culto ao deus
Pan. A cidade foi reconstruída com o nome de Cesaréia
de Filipe, onde Pedro reconheceu a Jesus como o Messias (Mc 8.27).
Alguns têm sugerido que o monte Hermom, que domina Cesaréia de Filipe, seja a
“montanha alta” da transfiguração que se narra logo a seguir (Mc 9.2), embora o
local tradicional seja considerado o monte Tabor.
Na
antiguidade, a DEPRESSÃO
DE HULE, de uns 15
km de comprimento e uns 5 de largura, recolhia estes
quatro afluentes, junto com alguns outros de menor importância, formando um
terreno encharcado e um lago pouco profundo de uns 4 km de comprimento. Hoje toda
a área está drenada como medida de combate à malária. As águas que afluíam para
o lago saiam juntas pelo leito do rio Jordão.
A
depressão do Hule, na direção norte-sul, era lugar de passagem entre a
Palestina e o vale de Beqaa. No sul do lago atravessava um caminho no sentido
oeste-leste, que unia a Palestina a Damasco (Síria). Para dominar esta passagem
estratégica estava construída ali a fortaleza de Hazor (http://www.bibleplaces.com/hazor.htm). Assentava-se sobre as montanhas próximas
ao Hule, na parte sudoeste, e era a principal cidade do norte da Palestina.
Após dominar o centro e o sul do país, Josué dirigiu-se para Hazor, por ser
esta cidade a chave natural para conquistar o norte (Js 11).
Nos 15
km que separam o lago de Hule do lago da Galiléia, o rio Jordão (cujo
nome significa o que desce com força) flui por uma estreita garganta
basáltica cujas paredes se elevam a mais de 350 metros sobre o nível
da corrente. O ímpeto das águas se explica pelo fato de que, à saída do Hule,
elas estão a 2 metros
acima do nível do Mediterrâneo, chegando a 205 metros abaixo quando
desembocam no lago da Galiléia. Sobre a
meseta ocidental, na região em que o rio Jordão se aproxima da sua
desembocadura no lago da Galiléia, estão as obscuras ruínas de Corazim, a
cidade que Jesus maldisse por não saber apreciar seus milagres (Mt 11.2) (http://www.bibleplaces.com/chorazin.htm).
3.3.2.2 O LAGO
DA GALILÉIA
Entramos
agora na principal região em
que Jesus desenvolveu seu ministério, e certamente uma das mais
formosas da Palestina. O LAGO DA GALILÉIA tem a forma de um coração, com 20/21 km de
comprimento por 11/13 de largura. Sua profundidade chega a 50 metros . Em hebraico
leva o nome de Quinerete
(=harpa: Nm 31.11, de onde vem o nome da planície de Genesaré em Mt 14.34), e lago de Genesaré em Lc 5.1 ou lago de Genesar em Josefo. Marcos e
Mateus dão a esta massa de água o nome de mar da Galiléia, mas Lucas o designa, mais
corretamente, de lago. Só João o chama
de lago de
Tiberíades ( 6.1;21.1), nome que recebeu mais tarde, no século I d.C.,
depois que Herodes Antipas construiu uma cidade com o mesmo nome em sua margem
sudoeste, em servil homenagem ao imperador romano Tibério e na qual Jesus nunca
esteve (http://www.bibleplaces.com/seagalilee.htm).
As
águas azuis do lago estão rodeadas por descidas abruptas em todas as partes,
menos na margem norte. A beleza da região desde sempre atraiu o ser humano. As
cavernas das colinas situadas a noroeste deram a conhecer algumas das marcas
mais antigas do ser humano pré-histórico da Palestina. Na atualidade, os
turistas ou peregrinos encontram nesta região o local mais adequado para
meditar, como o próprio Jesus (Mc 1.35;6.46). Porém nem sempre houve paz nestes
lugares. Nos “Cornos de Hatim”, abrupto acesso da baixa Galiléia para o lago
(por onde Jesus teve de passar quando foi de Nazaré para Cafarnaum – Lc 4.31; Jô
2.12), teve lugar a batalha decisiva em que Saladino retirou definitivamente dos cruzados
o poderio sobre a Palestina.
Os
discípulos de Jesus eram pescadores neste lago. Mais de uma vez ele
experimentou as tormentas repentinas quando atravessava o lago num barco. Os
invernos moderados deste lago resguardado ofereciam um bom refúgio àquele
pregador ambulante que muitas vezes não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8.20).
Com freqüência, seu auditório se recrutava dentre os habitantes das cidades
comerciais da margem norte, dentre os mercadores que percorriam o caminho para
a Síria pela margem ocidental do lago ou dentre a multidão de funcionários que
controlavam a passagem do Jordão, limite entre a Galiléia de Herodes Antipas e
a tetrarquia de Filipe em
Basã. Cafarnaum ,
situada na margem noroeste e terra natal de Pedro (Mc 1.21,29) foi eleita por
Jesus como centro de suas atividades. Sua sinagoga o ouviu falar mais de uma
vez (Lc 4.31;7.5; Jo 6.59) (http://www.bibleplaces.com/capernaum.htm).
Nas cercanias se procura localizar, atualmente, o monte das bem-aventuranças (http://www.bibleplaces.com/mtbeatitudes.htm), e Tabga, local que
guarda a memória da bênção sobre os pães e peixes (http://www.bibleplaces.com/tabgha.htm).
A uns 6 km
de Cafarnaum, cruzando o Jordão, estava Betsaida, cidade que guarda alguma relação com o
milagre dos pães (Lc 9.10; Jo 6.1). Dali eram, segundo Jo 1.44 e 12.21, Pedro,
André e Filipe (http://www.bibleplaces.com/bethsaida.htm).
Maria Madalena, que esteve possuída por sete demônios, parece que procedia de Magdala, na
margem oeste do lago, enquanto o possesso de Mc 5.1 saqueava as tumbas da
margem leste (perto de Gergesa?), na região da Decápolis. Esta zona teve pouca
importância para o AT.
3.3.2.3 – O VALE
DO JORDÃO
Entre
o lago da Galiléia e o mar Morto, numa distância de uns 105 km , o rio Jordão desce
de 205 metros
abaixo do nível do mar Mediterrâneo para 400. Em ambas as margens se elevam as
montanhas de mais de 300
metros sobre o vale. Esta depressão se alarga em uns 30 km ao norte e ao sul, nas
imediações do lago da Galiléia e do mar Morto. Quando dispõe de água
suficiente, procedente das chuvas no norte e da irrigação no sul, este solo é
apropriado para intenso cultivo.
No
centro da depressão corre o rio Jordão,
estreita corrente de 18 a
25 metros
de largura no lugar em que
Josué cruzou o rio (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Jord%C3%A3o). Não é de estranhar que o sírio Naamã
tenha julgado melhores os rios da Síria (2 Rs 5.12). Devido às suas curvas e
meandros, especialmente na metade do caminho entre o lago da Galiléia e o mar
Morto, o Jordão deposita espessas camadas de sedimento chamado Zor. Em alguns lugares o Zor tem uma
largura de 1,5 km
e uma espessura de 45 cm .
O Zor costuma inundar-se na primavera, quando as águas do degelo do Hermom
enchem as gargantas do Jordão, dando origem a um impenetrável matagal, que na
antiguidade dava guarida a animais selvagens, como o leão (Jr 49.19; Zc 11.3.
Jeremias insiste, com razão, no perigo que correm aqueles que adentram as
selvas do Jordão (12.5; 49.19). O inseguro destas formações e a espessura dos
matagais do Zor tem feito do Jordão uma divisória natural, mais que a largura
de sua corrente d’água. No norte, onde os vaus são mais freqüentes, há melhores
comunicações entre a Palestina e a Transjordânia, sobretudo em Gileade (Jz
8.4;12.1-6; 21.8-12; 1 Sm 31.11-13).
Avançando
do norte para o sul pelo vale do Jordão, encontramos o primeiro grande afluente
do rio Jordão ao leste, o Jarmuque, que
leva tanta água como o próprio Jordão (e que deu motivo à “guerra das águas”
entre árabes e israelenses em conseqüência de projetos hidráulicos destes
últimos) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Jarmuque).
Perto da confluência do Jarmuque com o Jordão floresceu uma importante
civilização neolítica que tem deixado mostras abundantes de cerâmica. A uns 20 km ao sul do lago da Galiléia há uma falha
nas montanhas ocidentais, onde a planície de Jezreel/Esdrelom se abre sobre a
depressão do Jordão. As rotas estratégicas de comunicação com Israel através
desta abertura estavam controladas pela fortaleza de Bete-Seã ( Js
17.11), cuja importância se mostra nos estratos arqueológicos que têm revelado
uma ocupação egípcia, filistéia e israelita. No período romano recebeu o nome
de Citópolis, e no
ano 400 se encontravam nelas duas florescentes comunidades, cristã e judia.
Frente à falha de Bete-Seã, sobre a ladeira transjordânica do vale, estava Pela (http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/Giord/01GiordEs.html#Pella). Na direção sul se achava a torrente de Querite (waadi Yabes: 1 Rs 17.3), cuja
desembocadura no Jordão assinala o território em que atuava Elias.
No
lado leste, onde a depressão se estreita e no lugar em que o wadi Kufringe
desemboca no Jordão, estava a localidade de Zaretã ( 1 Rs 4.12), onde também foram feitas
interessantes escavações. No lado leste do vale, entre o wadi Kufringe e o
Jaboque (Nahr ez-Zerka) tiveram lugar as atividades metalúrgicas empreendidas
por Salomão (1 Rs 7.45-47), para as quais se usava abundante combustível dos
bosques do norte de Gileade. A distância entre Zaretã e Adão (Tell
ed-Damiyeh), na confluência com o Jaboque, é de uns 20 km . Js 3.16 relata que
quando Josué deteve as águas do Jordão, a corrente deixou de fluir desde Adão até
Zaretã. Notícias históricas parecem confirmar que corrimentos de terra ocorridos na zona de
Adão podem deter, temporariamente, o curso do Jordão. No lado ocidental, em
frente a esta zona, o wadi Far’ah se
adentra na depressão procedente da Palestina, trazendo as águas da região
samaritana. Em um pico isolado, dominando a conjunção entre o Fa’ah e o Jordão,
estava a impressionante fortaleza herodiana de Alexandreion. Nos 24 quilômetros que
separam o Alexandreion de Jericó, na margem oeste, havia outras fortalezas
herodianas, como Fasaelis, Arquelais e Doc (cf. 1 Mac 16.15), cuja finalidade era
proteger as rotas que comunicavam o vale com a Judéia.
Cerca de 13
km ao norte do mar Morto, um pouco isolada na margem
ocidental, estava a pérola sul do Jordão, Jericó, uma das cidades mais antigas do mundo e
lugar de importantíssimas escavações arqueológicas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jeric%C3%B3 http://www.bibleplaces.com/jericho.htm (http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/TS/03b_TSes.html ). Sugere-se que a fonte próxima às suas
ruínas seja a que purificou a Eliseu (2 Rs 2.19-22). É muito possível que a
Jericó do NT já não ocupasse mais o mesmo lugar (Tell es-Sultan), e sim, outro
lugar próximo. Na zona leste, frente a Jericó, onde o vale é muito largo, se
estendem as CAMPINAS
DE MOABE (Nm 22.1), onde acamparam os israelitas quando voltavam da
meseta moabita. Estas campinas foram o cenário dos últimos capítulos de Números
e de todo o Deuteronômio. Não se sabe exatamente o lugar da passagem do Jordão.
A região foi palco da atividade de João Batista e do batismo de Jesus. Jo 1.28
localiza a atividade de João Batista nas proximidades de Betânia, 5 km ao norte do mar Morto.
3.3.2.4 – O MAR
MORTO
O
rio Jordão termina seu curso desembocando no mar Morto, o mais
característico acidente de toda a depressão do Jordão. Rodeado de montanhas em
ambas as margens, com 80 km
de comprimento por 16 de largura, o mar Morto, ou mar de Arabá (Dt 3.17), mar
Salgado (Gn 14.3) e lago Asfaltite (Josefo) é o lugar mais baixo da superfície
terrestre. A superfície do Mar morto está a 392 metros abaixo do Mar
Mediterrâneo, com profundidades de 390 metros na parte norte. O Mar Morto possui a
massa de água mais insólita do planeta. 27% de seus componentes são materiais
sólidos (sal e outros minerais). Seu conteúdo salino aumenta incessantemente,
pois os sete milhões de toneladas de água que desembocam nele diariamente não
têm saída, mas se perdem por evaporação, acumulando os sólidos residuais (http://www.bibleplaces.com/deadsea.htm).
Os
45 milhões de toneladas de compostos químicos que contêm têm atraído a
indústria química de Israel e da Jordânia. Mesmo assim não se pode evitar que o
extremo sul do mar, pouco profundo, vá se elevando progressivamente devido à
sedimentação. Nenhum peixe pode sobreviver em semelhantes águas, ao menos até
que se cumpra a visão de Ezequiel e uma torrente portadora de vida desça de
Jerusalém para adoçar o mar Morto até En-gedi (47.10). O calor excessivo e o
solo requeimado não permitem assentamentos de população em grande escala nesta
região, embora se preste atuamente para o turismo de inverno.
Na
margem noroeste, perto da fonte de Ain Feshka, estão
as ruínas de Qumrã, assentamento
da comunidade que produziu os manuscritos do mar Morto, provavelmente os
essênios (http://www.bibleplaces.com/qumran.htm)(http://www.bibleplaces.com/qumrancaves.htm). Perto dali, na margem oeste, se encontra a
famosa fonte de En-gedi (Ct 1.14)
(http://www.bibleplaces.com/engedi.htm) (http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/TS/04a_TSes.html),
onde Davi buscou refúgio fugindo de Saul (1 Sm 23.29). A fortaleza isolada de Massada, situada
num platô elevado mais ao sul, foi o último bastião da luta que os judeus
mantiveram contra os romanos entre 66 e 73 d.C. (http://www.bibleplaces.com/masada.htm)(http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/TS/04b_TSes.html).
Os vales entre En-gedi e Massada abundam de cavernas, que proporcionaram abrigo
para a resistência judaica. Nelas também se encontraram parte dos manuscritos
do mar Morto. No extremo sul da margem oeste se encontra a montanha de sal
chamada Gebel Usdum, cujo nome lembra a cidade bíblica de Sodoma e a
coluna de sal em que se transformou a mulher de Ló (Gn 19.26). Alguns supõem
que Sodoma e Gomorra, assim como outras três cidades da região (Gn 18.16ss),
foram tomadas pelas águas, no extremo sul do mar.
A
margem leste está cortada por precipícios abruptos e por grandes gargantas que
conduzem os rios da Transjordânia, como o Arnom e o Zerede. Já mencionamos as
fontes termais de Callirhoe na parte norte desta região. Baixando para a margem
leste, a dois terços do caminho, se encontra a península de Lisã (= língua), de uns 15 km de largura, que se
adentra no mar, reduzindo a largura do mar a apenas 3 km . Durante a época romana e
ainda em tempos posteriores era possível atravessar o mar Morto por este lugar.
3.3.2.5 – O
ARABÁ
No
AT também se emprega o termo Arabá
para designar toda a depressão palestinense. Hoje, sem dúvida, se usa este
termo para designar a parte mais ao sul da depressão, ou seja, os 150 km que separam o mar
Morto do Golfo de Ácaba. O solo do Arabá se eleva progressivamente até que no
Gebel er-Rishe, a meio caminho, alcança os 195 metros acima do nível
do mar. O vale se encontra flanqueado de montanhas, que são mais altas na parte
leste. A partir do Gebel er-Rishe, o solo volta a descer até a altura do Golfo
de Ácaba. A parte norte do Arabá é muito larga, especialmente na altura do
entrante de Punom
(http://www.bibleplaces.com/punon.htm).
Sua maior largura no sul não chega a 10 km . Quase todo o Arabá é
um deserto, onde assentamentos humanos só podem sobreviver graças ao trabalho
de irrigação, como o realizado pelos nabateus antigamente ou pelos israelitas
na atualidade.
O
Arabá adquire importância para a história bíblica em duas ocasiões.
Primeiramente serviu de caminho para o avanço de Israel desde Cades-Barnéia até
a Transjordânia, como já descrevemos. Em segundo lugar, foi o lugar em que se
instalou a principal fundição de cobre
nos tempos de Salomão. O mineral era extraído de colinas e fundido em lingotes
para satisfazer as necessidades do grande construtor de Israel. No extremo sul
do Arabá se acha a fortaleza de Elate, motivo de freqüentes disputas entre Judá
e Edom ( 2 Rs 14.22;16.6). Perto dali ficava Eziom-Geber, um dos locais por que passou a
peregrinação de Moisés, mas mais conhecida por haver sido transformada em porto
por Salomão, que a converteu ainda em ponto de partida de suas frotas que
comerciavam com a Somália, a Arábia do Sul e outros pontos situados a leste (1
Rs 9.26;10.2). Este porto voltou a ser usado em tempos posteriores, durante a
monarquia separada de Israel e Judá, quando a paz entre ambos permitia unir
esforços para continuar o comércio mundial empreendido por Salomão( 2 Cr
20.36).
N.
Glueck tem identificado Elate e Eziom-Geber ( que na Bíblia aparecem como
localidades distintas) com o lugar que ele mesmo escavou em Tell el-Kheleifeth,
no centro do extremo norte do Golfo, meio quilômetro terra adentro. Quase todos
os autores têm aceitado esta identificação, apesar de que Glueck não tenha
encontrado restos de instalações portuárias. Os fortes ventos da região
representam outra dificuldade. Há que supor que não se havia feito instalações
normais para o atraque dos navios, e sim que estes simplesmente ancoravam na
praia. 1 Rs 1 22.47 refere-se a um naufrágio em Eziom-Geber. Rothenberg
sustenta que Elate ficava na zona nordeste do Golfo, e que Eziom-Geber ficava
sobre a ilha de Jeziret Fara’un , a uns 13 km da costa, na direção sul. Esta ilha, onde
se encontrou cerâmica correspondente aos tempos de Salomão, oferece excelentes
condições de abrigo para os barcos. São visíveis nela os restos de um porto
artificial.
3.3.3 – AS
PLANÍCIES COSTEIRAS
Antes de fixarmos nossa atenção na
região mais importante da geografia bíblica, que é a faixa formada pelas
montanhas da Palestina, entre o mar Mediterrâneo e o rio Jordão, vamos
fixar-nos na costa da Palestina, que mede uns 200 km da cidade filistéia
de Gaza, no sul, até a cidade fenícia de Tiro, no norte. Para maior clareza
vamos dividi-la em três sessões, cada uma delas cobrindo uma distância de 60 a 70 km .
3.3.3.1 – A FILISTÉIA E A SEFELÁ
Meio século após a principal ocupação israelita de
Canaã (ca. 1200 a .
C.), os povos do mar ocuparam uma
faixa ao sul da costa cananéia. Estes novos invasores eram uma mistura de
indo-europeus, procedentes de Creta, Chipre, Sicília e outras ilhas do
Mediterrâneo. Estes povos haviam atacado anteriormente a costa situada mais ao
norte, destruindo Ugarite. Os semitas que habitavam o país, cananeus e
israelitas, encontraram nestes estrangeiros incircuncisos uns formidáveis
adversários, cuja língua lhes era desconhecida e que chegavam portando armas de
ferro que os tornavam invencíveis. Estes povos, que adiante seriam conhecidos
com o nome de filisteus, se apoderaram em poucos anos de
toda aquela costa, seguramente com a anuência do Egito, formando uma pentápolis
ou liga integrada por cinco cidades (1 Sm 6.4): Gaza, Ascalom e Asdode/Azoto na costa, Gate e Ecrom terra
adentro(lugares que ainda não foram claramente identificados).
Mesmo que os filisteus tenham
chegado a dominar boa parte de Canaã, incluindo a planície de Esdrelom/Jezreel
e parte do vale do Jordão, a FILISTÉIA propriamente dita abarcava o território da
pentápolis. A costa compreendida entre o norte de Gaza e Jope (uns 72 km ) está coberta por dunas
de areia, que às vezes alcançam uma altura de 50 metros . Ao longo da
costa passa a estrada principal que unia o Egito com a Síria. Já sugerimos que
este possa ter sido um dos caminhos pelo qual seguiram, em parte ao menos, os
israelitas que saíram do Egito em direção a Canaã.
A planície filistéia se estende
entre as dunas de areia e as colinas, numa largura de 7 a 15 km , cruzada pelos wadis que drenam as colinas situadas a
leste. Muitos deste wadis têm ajudado a localizar as cidades. Olivais e trigais
eram a base da riqueza dos filisteus (Jz 15.5), sendo seus únicos perigos a
seca, as pragas e as guerras. Especialmente no sul da Filistéia a água é
escassa, e a que cai no inverno corre rapidamente para o mar. Gaza, por
exemplo, se encontra no limite entre a terra fértil e o deserto, ao sul. Eram
freqüentes ali as pragas que vinham do Egito (Dt 7.15; 28.60; Am 4.10). A
Bíblia recorda uma epidemia (talvez de peste bubônica) que se propagou pela
Filistéia quando a arca de Israel foi levada para Asdode e Ecrom (1 Sm 5).
Quatro séculos mais tarde, um exército de Senaqueribe seria dizimado por uma
destas pragas em Libna, ao norte de Gate (2 Rs 19.8,35-37). No que se refere às
guerras, na Filistéia eram muito conhecidos os exércitos invasores, já que este
país era passagem obrigatória para os que intervinham nos conflitos entre o
Egito, no sul, e a Síria, Assíria e Babilônia no norte e leste do Crescente
Fértil. No apogeu deste povo, o motivo das perturbações não eram as guerras
internacionais, e sim, a rivalidade com Israel (séculos XII-XI). Não se fala
mais dos filisteus no período pós-exílico, mas seu nome sobrevive no termo
“Palestina”, utilizada pelos romanos para designar o território israelita após
a revolta de Bar-Kochba contra Roma (132-135).
Entre a planície filistéia e as montanhas de
Judá a leste, há uma faixa com largura de 15 a 25 km , com altitude de 100 a 400 metros , conhecida
como SEFELÁ (=terras
baixas). Os vales de Sefelá eram passagens naturais entre a Filistéia e as
montanhas, e eram protegidos por cidades fortificadas: Debir ( Js
15.7), Laquis (Js
10.5,23) (http://www.bibleplaces.com/lachish.htm),
Libna (Js
15.42), Azeca (Js
15.35), Maquedá
(Js 15.41), Bete-Semes ( 1 Sm 6.9-19) (http://www.bibleplaces.com/bethshemesh.htm) e Gezer (Js
10.33) (http://www.bibleplaces.com/gezer.htm), uma lista de cidades
que ficaram famosas pelos relatos bíblicos de temas bélicos. As escavações
realizadas em Bete-Semes dão a conhecer importantes mostras da indústria
filistéia. Elas mostram que estas cidades deviam cair alternadamente sob
influência israelita e filistéia. Quando Josué consolidou seu domínio sobre as
terras altas da Canaã central, com base em Betel, Ai e Gabaom, sua próxima
campanha se dirigiu contra as cidades da Sefelá (Js 10.28-40). As escavações
realizadas em algumas delas confirmam sua destruição em ca. de 1240 a .C.
Quando
os filisteus chegaram lá, serviram-se de Ecrom e Gate como fortalezas contra
Israel (Js 15-16). As vitórias de Davi, que romperam definitivamente o poderio
filisteu, tiveram lugar em SEFELÁ (2 Sm
5.17-25). Em uma palavra: o controle da Sefelá era decisivo. Quando prevaleciam
os filisteus, os wadis eram como flechas que apontavam para as montanhas de
Judá; quando os israelitas se impunham, a ameaça se voltava contra a planície
dos filisteus. Mais tarde, nos séculos VIII a VI, o controle desses wadis
desempenhou um papel decisivo nas campanhas da Assíria e da Babilônia contra
Judá. Ao invés de atacar a planície pelo norte, Senaqueribe e Nabucodonosor
enviaram seus exércitos na direção sul, ao longo da costa, para cortar qualquer
ajuda que Judá pudesse receber do Egito e para dispor ao mesmo tempo de uma via
de acesso fácil para o interior. Laquis foi lugar de famosas e importantes
batalhas ( 2 Rs 18.14; Jr 34.7).
Dois wadis situados na parte norte
da Sefelá merecem especial menção. O Soreque (Jz 16.4)
tinha em suas imediações as cidades de Quiriate-Jearim (http://www.bibleplaces.com/kiriathjearim.htm), Bete-Semes, Ecrom e Jabneel. Foi cenário dos relatos sobre Sansão
(Jz 16) e da história da arca que caiu nas mãos dos filisteus (1 Sm 6; 2 Sm 6).
O outro wadi, mais ao norte, era o Aijalom, que,
passando por Bete-Horom
de Baixo e Bete-Horom de Cima, dava acesso a Betel e Jerusalém
através de Gabaom. Neste lugar Josué travou suas batalhas com os reis do sul
(Js 10.10-15). O vale teve grande importância estratégica nas lutas de Saul
contra os filisteus (1 Sm 14.31), assim como na guerra entre jordanianos e
israelitas em 1948.
3.3.3.2 A PLANÍCIE DE SAROM
A
planície de
SAROM é uma faixa de uns 65 km que vai de Jope (Jafa), no sul, até o rio
do Crocodilo (Sior-Libnate), no norte. A planície de Sarom é mais estreita (uns
15 km de
largura) que a planície filistéia. Não se forma aqui uma verdadeira “sefelá “
de suaves colinas, pois as planícies alcançam a base de elevadas montanhas. De
norte a sul, ao longo da planície, se elevam em meio a ela uma elevação formada
por rochas arenosas. Os wadis que descem das montanhas se vêm forçados a desviar
seu curso para rodear um dos extremos desta elevação, de forma que três destas
torrentes, incluindo o rio Crocodilo, desembocam na parte norte da planície,
enquanto que no sul desemboca o rio Jarcom, perto
da cidade atual de Tell Aviv.
A configuração do terreno nesta
região significava uma série de obstáculos desalentadores para viajar ou
estabelecer-se nela. A rota principal que a atravessava seguia pela base das
montanhas. Poucas cidades se instalaram na borda da planície: Jope, Lida,
Afeque, Gilgal e Socó. Afeque (talvez a romana Antipátrida de At
23.31), junto ao nascimento do rio Jarcom, era um lugar importante para
controlar a rota que levava de Jope a Jerusalém (http://www.bibleplaces.com/aphek.htm). Ali sofreram os
israelitas uma grande derrota para os filisteus por volta de 1050 (1 Sm 4.1),
se bem que parece mais correta a localização mais ao norte, perto de Esdrelom. Jope, “a
formosa” tinha importância como zona portuária, mesmo que sua utilização não
fosse muito cômoda (http://www.bibleplaces.com/joppa.htm).
Provavelmente as madeiras de cedro utilizadas na construção do templo foram
levadas em jangadas até a costa de Jope, de onde eram enviadas por terra para
Jerusalém (2 Cr 2.16; Ed 3.7). Na atualidade, Tell Aviv (nome que recorda Ez
3.15), fundada por judeus em 1909 por causa da hostilidade dos árabes
instalados em Jafa, é a maior cidade do país.
Nos tempos do NT, a planície se
tornou mais transitável graças às estradas e pontes construídas pelos romanos.
Pedro atua tanto em Lida como em Jope (At 9.32-10.23). Uns 16 km ao sul de Jope se
encontra Jabne ou Jâmnia, onde se
instalou uma escola rabínica e o Sinédrio após a queda de Jerusalém em 70 d.C.
e por volta de 90 se definiu a cânon
hebraico do AT (http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Jamnia). Na costa e ao extremo norte de Sarom, Herodes
Magno mandou construir Cesaréia Marítima, proporcionando à região um novo porto,
cuja necessidade se fazia sentir. Em At 9.30; 18.22; 21.8 lemos que Paulo
embarcou e desembarcou nele. Cesaréia era o centro do poder romano na Palestina
e nela estava o quartel general do procurador. A primeira inscrição descoberta
na Palestina com uma menção a Pôncio Pilatos foi encontrada aqui em
1961. O centurião Cornélio, da coorte itálica, vivia em Cesaréia (At
10.1) e ali foi batizado por Pedro. Entre os anos de 58 a 60 o apóstolo Paulo
sofreu prisão em Cesaréia sob os governadores Félix e Festo (At 23.23;25.12) e
tanto de Herodes Agripa I (At 12.20-25) como do II (At 25.13-27) se diz que
foram a Cesaréia nos anos 44 e 60, respectivamente (http://www.bibleplaces.com/caesarea.htm).
Em tempos modernos, os árabes
fizeram plantações de cítricos na planície de Sarom, que receberam novos
impulsos através dos israelenses. A Bíblia diz que nesta região se criavam
animais (1 Cr 27.29; Is 65.10). Sua abundante vegetação é comparada com a do
Carmelo ou do Líbano (Is 33.9; 35.2).
3.3.3.3 A COSTA DE DOR E A PLANÍCIE
DE ASER
A zona costeira de DOR separa o
Sarom do grande promontório do Carmelo, uns 30 km ao norte do rio do
Crocodilo. Como ocorre em todo o norte, a costa, de apenas 3 km de largura, é muito mais
estreita que no sul (Sarom ou Filistéia). As montanhas chegam muito próximas do
mar. A cidade de Dor, que deu nome ao território, era um porto medíocre. Não
foi tomada na invasão de Josué (Jz 1.27) e seguiu em mãos dos filisteus até o
século X (1 Rs 4.11). Desde que Herodes construiu Cesaréia Marítima, 13 km ao sul, a cidade de Dor
entrou em contínua decadência.
O mais notável acidente geográfico
da costa palestinense é o promontório do CARMELO, que adentra no mar e forma a baía
natural que abriga os portos de Haifa e Aco. A vista que se desfruta do Carmelo
sobre a baía é fascinante. Neste ponto teve lugar o dramático enfrentamento de Elias
com os sacerdotes de Baal (1 Rs 18.20ss) (http://www.bibleplaces.com/mtcarmel.htm). Haifa ganha
importância como porto apenas durante o mandato britânico. Não é uma cidade
bíblica, embora nela foram achados antigos assentamentos. Aco era uma
antiga cidade. Com o nome de Ptolemaida ( 1 Mac 11.22-24; 12.45-48; At 21.7)
fez-se importante na época greco-romana por seu artesanato de vidro. Os
cruzados a usaram como porto com o nome de São João de Acre, tendo sido a única
fortaleza que permaneceu em seu poder depois de terem sido derrotados por
Saladino. Aqui desembarcou São Francisco de Assis para fundar a “Custódia da
Terra Santa” franciscana, encarregada de proteger os santuários cristãos (http://www.bibleplaces.com/acco.htm).
Mais ao norte se encontra a planície de ASER. O
território previsto para a tribo de Aser tinha uns 20 km de comprimento por 8 de
largura e se achava encaixado entre o mar e as montanhas. A planície estava
inundada em grande parte pelas águas que desciam das montanhas pelos leitos dos
wadis. Ao pé das montanhas estavam os assentamentos mais importantes. Nem a
tribo de Aser nem o seu território tiveram importância para a história bíblica,
se bem que Gn 49.20 menciona as possessões de Aser como uma terra muito rica
capaz de proporcionar alimentos aos reis (Dt 33.24). Em Jz 5.17 se conta como Aser
foi castigado por ficar junto ao mar, quando o resto de Israel estava em perigo. Era inevitável
que as pobres costas de Aser ficassem na penumbra ao lado da FENÍCIA, com
quem se limitava ao norte, com seus grandes portos de Tiro e Sidom (http://pt.wikipedia.org/wiki/Tiro).
Parece que Aser formava parte dos territórios entregues por Salomão a Hirão de
Tiro, em pagamento pelos materiais e ajudas prestados pelos fenícios na
construção do templo (1 Rs 9.11).
3.3.4 – A REGIÃO CENTRAL DA PALESTINA
Para a história bíblica, esta é a
região mais importante da Palestina. A região entre Dã e Berseba era vista como
o “autêntico Israel”. Comecemos pelo sul.
3.3.4.1 – O DESERTO DO NEGEV
Este é o território situado no
extremo sul de Israel. Tem a forma aproximada de um trapézio, delimitado por
Gaza, o ribeiro do Egito, Eziom-Geber e Sodoma, flanqueado a oeste pela costa
do deserto e a leste pelo vale do Arabá. O NEGEV (=sul) é conhecido na Bíblia como o deserto de Zim (Nm 20.1;
33.36: é possível que este nome se refira mais exatamente à parte sul do Negev,
no limite com Cades-Barneia). Seguindo a direção nordeste-sudoeste, em
diagonal, através do Negev, se encontram duas elevações de terreno que recebem
os nomes de Kurashe e Kurnub. A parte oeste destas elevações, particularmente o
noroeste, recebe alguma umidade proveniente do orvalho e das chuvas ocasionais
procedentes do Mediterrâneo. A isto se deve o fato de que quase todas as
localidades habitadas do Negev estejam situadas precisamente no flanco ocidental,
como Berseba e Cades-Barnéia. Na atualidade, os israelitas têm conseguido
restaurar o sistema de irrigação utilizado antigamente pelos nabateus, tornando
a região novamente produtiva.
A parte leste e sudeste do
promontório, ou seja, aquela que se volta para o Arabá, é deserta e cruzada por profundas gargantas. A importância
desta região está no fato de que todo o comércio procedente da Transjordânia, (por
exemplo, Petra, no tempo dos nabateus) ou do golfo de Ácaba (por exemplo,
Eziom-Geber nos tempos de Salomão) tinha que passar necessariamente por estas
gargantas e wadis em seu caminho para Berseba e para a Palestina propriamente
dita. A cidade de Kurnub (a Mampsis romana) estava situada numa falha do
promontório, pela qual passavam as rotas de caravanas (http://www.bibleplaces.com/mampsis.htm). Hormá, cujo
nome está relacionado à intenção frustrada dos israelitas de invadir Canaã a
partir do sul (Nm 14.39-45; 21.1-3; Dt 1.41-46), achava-se provavelmente nesta
zona, a sudeste de Berseba.
Em tempos bíblicos, o Negev só pôde
ser controlado pela monarquia em seus momentos de maior esplendor, e ainda assim,
somente na medida precisa para manter abertas as rotas comerciais em direção a
Eziom-Geber. No restante, o Negev era cenário de expedições de saque
organizadas por beduínos contra as populações da Filistéia e de Judá e de
incursões de castigo ao estilo das ações narradas em 1 Sm 27.8-12;30. Estes
relatos das incursões de Davi no Negev mostram que este se achava dividido em
diferentes zonas de influência. Após a queda da monarquia, os edomitas ocuparam
o território, de onde procede o nome de IDUMÉIA que lhe foi dada no período helenista (1
Mac 5.3; Mc 3.8). Em 125 a .C.
o João Hircano conquistou a Iduméia e submeteu-a ao poder do estado judaico dos
asmoneus. Dentre eles surgiu a família herodiana, que governaria em
diferentes territórios palestinenses durante cerca de um século. A região
voltou a ter certa importância na época bizantina, como demonstram algumas
escavações recentes em Avdat ou Abda (http://www.bibleplaces.com/avdat.htm).
Os dois lugares bíblicos mais
importantes do Negev eram Cades-Barnéia e Berseba. Cades-Barnéia foi o
lugar onde os israelitas se detiveram por 38 anos em sua viagem entre o Sinai e
a Transjordânia (Dt 1.46; 2.14). Miriam, a irmã de Moisés, morreu e foi
enterrada neste lugar (Nm 20.1). Dt 1.2 localiza Cades-Barnéia a uma distância
de onze dias do Sinai-Horebe. Este dado corresponde à localização do Sinai no
sul da península do mesmo nome. O nome Cades tem se conservado no de Ain
Qudeis, junto à fronteira entre a península do Sinai e a Palestina. Supõe-se
que esteja relacionado com Cades o episódio em que Moisés faz brotar
água de uma rocha, para acalmar a sede do povo (Nm 20.2-13). Por isso são
muitos os investigadores que identificam Cades não com Ain Qudeis, e sim, com a
localidade de Ain Qudeirat, já que na primeira a água era escassa.
A uns 80 km ao norte de Cades estava
Berseba, famosa
já pelas estadias de Abraão e Isaque nela (Gn 22.19; 26.33; 46.1-4) (http://www.bibleplaces.com/beersheba.htm). Localizada a uns 300 metros acima do
nível do mar e abastecida abundantemente de água, a cidade se encontra sobre as
rotas procedentes de Gaza para o oeste, da Transjordânia para o leste e do
Negev para o sul. No deserto próximo vagou Hagar com Ismael (Gn 21.4).
Em Berseba plantou Abraão uma tamargueira, dedicando-a ao culto de El Olam (Gn
21.33). Uns 30 km
a leste de Berseba se encontra Arade, uma das cidades cananéias situadas mais ao
norte dentro do Negev, cujo rei se opôs à passagem dos israelitas (Nm
21.1-3).Quando estes destruíram a cidade, seu território foi entregue aos
aliados quenitas (Jz 1.16 ?;cf. Js 12.14). Atualmente se fazem importantes
escavações em Arade (http://www.bibleplaces.com/arad.htm).
O Negev ou deserto de Zim era a
parte mais ao sul dos domínios israelitas (Nm 34.3; Dt 34.3; Js 15.1). Às vezes
se designa esta fronteira a partir do extremo sul do Negev ou do ribeiro do
Egito (wadi el Arish: Nm 34.5; Js 15.4). Mais freqüentemente se traça a
fronteira a partir de Berseba, no norte do Negev (Jz 20.1; 1 Sm 3.20).
3.3.4.2 – O TERRITÓRIO DA CASA DE JUDÁ
O país de Judá ou a JUDÉIA é uma faixa montanhosa que forma uma
meseta elevada, de uns 15 km
largura, que se estende desde o norte de Berseba até um pouco mais adiante de
Jerusalém. A leste, onde a meseta desce para o mar Morto e para a depressão do
Jordão, está o desolado DESERTO DE JUDÁ (Js 15.61; Mt 3.1), refúgio de bandidos e
fugitivos (por exemplo, Davi fugido de Saul), assim como de homens religiosos
que buscavam a solidão (João Batista, os sectários de Qumrã, os monges cristãos
do mosteiro de Mar Sabas). A desolação
deste deserto se mostra no fato de que entre Jerusalém e Jericó não há um único
manancial de água. A defesa de Judá por este lado oriental podia ser deixada
quase por conta da natureza. Pelo oeste, a Sefelá flanqueava as montanhas e
dificultava o avanço dos filisteus (http://www.bibleplaces.com/judeanwilderness.htm).
Pelo sul, as elevações montanhosas
desde Berseba ofereciam uma defesa, mesmo que um tanto débil, frente às
incursões dos moradores do Negev, como os amalequitas (1 Sm 15). O Negev
de Judá (1 Sm 27.10) era provavelmente a zona norte do Negev, sobre a qual Judá
tentava manter um certo controle para que lhe servisse de proteção pelo sul.
Por isso o Negev, às vezes, aparece como parte do território de Judá (Js
15.3-4). A tribo de Judá, que possivelmente entrou na Palestina pelo sul, e não
cruzando o Jordão, parece que se aliou com um grupo de povos estabelecidos no
sul, como os quenitas,os quenezeus, os calebitas e os jaramelitas ( Js 14.6-15;
15.13-19; Jz 1.8-20;1 Cr 2.9,25-27), incluindo-os na confederação israelita.
A fronteira norte de Judá não estava
tão clara. Se bem que o território de Benjamim ficasse ao norte de Judá,
ele era um limite mais político que geográfico. Por sua história e seus
sentimentos, Benjamim se inclinava para Efraim e não formava parte da “casa de
Judá”. O território de Benjamim em torno de Ai e Gibeom foi o primeiro ponto de apoio ganho por
Josué nas montanhas da Palestina quando os israelitas subiram de Jericó (Js
7-9). Este território tinha grande importância estratégica não só olhando para
o leste, como também para o oeste, como o demonstra o fato de que Josué se viu
obrigado a manter uma guerra permanente com os reis da Sefelá, que subiam do
lado oeste pelo vale de Aijalom para atacar Israel. Os filisteus usaram esta
mesma rota para destroçar Saul e atacar as fortalezas israelitas das montanhas
de Benjamim (1 Sm 10.5;13.1-14.31). A terra natal e capital de Saul foi Gibeá (1 Sm
10.26;11.24), a moderna Tell el-Full, ao norte de Jerusalém.
Quando se dividiu a monarquia,
Benjamim parece que se uniu ao norte, como uma das dez tribos confederadas contra as do sul, Judá e a
extinta Simeão (1 Rs 11.30). Porém Judá precisava do território de Benjamim
como um amortecedor defensivo para Jerusalém, aspiração que vemos refletida na
menção de Benjamim nas glosas de 1 Rs 12.21,23 ( “toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim). As
reivindicações territoriais de Judá abarcavam desde Berseba, ao sul, até Geba,
no norte. Porém Geba, a uns 8 km de Jerusalém, caía no
território de Benjamim (2 Rs 23.8). Judá resistiu tenazmente ao propósito das
tribos do norte de anexar esta zona de Benjamim( 1 Rs 15.16-24). A importância
desta fortaleza fronteiriça de Benjamim para a defesa da fronteira norte
de Judá
fica bem ilustrada no relato imaginário de como um rei assírio poderia
atacar Jerusalém (Is 10.28-34) avançando desde Ai, 15 km ao norte de Jerusalém,
até Nobe, sobre o Monte das Oliveiras, e dominando Jerusalém.
Entre as cidades de Judá, Hebrom foi o
centro histórico do poderio de Judá, do que Davi implicitamente daria
testemunho ao fazer-se coroar ali como o rei de Judá (2 Sm 2.1-4; cf. 15.7-10).
Estabelecida a uns mil metros sobre o mar, é a cidade de Judá situada em maior
altitude. Ela controlava pelo oeste as rotas que levavam a cidades como Maressa
(Js 15.44) e Laquis (Js 10.5), na Sefelá, e pelo leste a rota que levava a
En-gedi. Parece que antes Hebrom se chamava Quiriate-Arba (Js 14.15;15.13).
Nela Abraão e Sara foram sepultados (Gn 23; 25.9). No santuário próximo de
Manre (a moderna Ramet- el-Khalil), Abraão recebeu as promessas divinas e viu a
Deus ( Gn 13.14-18). Também Isaque morreu em Hebrom (Gn 35.27). Hoje as tumbas
destes patriarcas são veneradas numa mesquita, outrora uma igreja, que se
levanta em meio a Hebrom, junto a magníficas ruínas herodianas. O tanque de
Abraão recorda o lugar em que
Davi mandou executar os assassinos de Is-Bosete, filho de Saul
(2 Sm 4.1-12) (http://www.bibleplaces.com/hebron.htm).
Belém (nome anterior:Efrata), a uns 24 km de Hebrom e a 8 km ao sul de Jerusalém, não
era uma cidade importante em si (Mq 5.2). Ganhou notoriedade por ser a pátria
ancestral de Davi (Rt 1.1; 4.22;1 Sm 16; Lc 2.4; Mt 5.2; Jo 7.42). Sobre
a gruta tradicionalmente relacionada com o nascimento de Jesus se levantou uma
basílica constantiniana, depois modificada pelos cruzados. O campo que se
estende ao leste de Belém pode ser muito bem o “campo de pastores” de Lc
2.8,15. A “tumba de Raquel”, que atualmente se acha na entrada norte da
cidade, é prova de um erro devido a uma interpretação equivocada de Gn 35.19; 48.7
e a uma afirmação implícita em Mt 2.18. O sepultamento de Raquel no território
de Benjamim é muito mais verossímil (1 Sm 10.2; Jr 31.15) (http://www.bibleplaces.com/bethlehem.htm).
A sudeste de Belém se levanta uma
colina em forma de cone, o Herodeiom, a fortaleza em que Herodes Magno
foi enterrado, não longe da mesma cidade cujas crianças, segundo Mt 2.6, mandou
matar (http://www.bibleplaces.com/herodium.htm).
Daqui até o mar Morto se estende uma região com alguma pastagem, ocupada pelos
beduínos Ta’amireh, os mesmos que
descobriram os manuscritos do mar Morto. Perto estava Técoa, pátria
do profeta Amós (1.1).
Jerusalém, “a cidade do grande rei” (Sl 48.2), caiu
nas mãos de Judá apenas nos tempos de Davi (ca.1000). Após conquistá-la dos
jebuseus, Davi transferiu sua capital de Hebrom para Jerusalém (2 Sm 5.6-10).
Enquanto Hebrom era uma cidade sulista e de caráter provincial, Jerusalém
estava situada no limite entre ambas as porções de Israel, sem antecedentes
históricos que a ligassem a uma delas. Em Gn 14.18 se fala de sua pré-história
como santuário de El Elyon (Deus Altíssimo) e talvez de Zedeque (cf. Js 10.1).
O monte sobre o qual a cidade estava
situada está rodeado por barrancos em três lados. Ao leste há uma forte
inclinação para o Cedrom, wadi que transporta uma rápida corrente d’água quando caem
fortes chuvas. Esta depressão separa Jerusalém do monte das Oliveiras, mais
alto, de onde se tem uma visão esplêndida da cidade (2 Sm 15.23,30; 2 Rs 23.6;
Jo 18.1). Apesar de estreito, o vale do Cedrom é identificado tradicionalmente
com o vale de Josafá, onde Jl 3.2-12 situa a reunião de todas as nações para
serem julgadas. A oeste de Jerusalém se encontra o vale de Hinom (Js
15.8;18.16), que rodeia a parte sul da montanha para encontrar-se com o Cedrom
ao sudeste, no Haceldama. Este vale (=Ge-Hinnom/Gehenna) trazia à memória
lembranças desagradáveis, já que era usado como local em que se queimava lixo e
já que nele se havia tributado culto a deuses pagãos (1 Rs 11.7; 2 Rs 16.3;
23.10), de onde se derivou o significado de gehenna como “inferno”(Mt 5.22). O promontório de Jerusalém se dividia em duas
colinas, a leste e a oeste, por uma ribanceira que hoje mal se nota: o Tiropeón (“vale dos
queijeiros”). A cidade cananéia (jebuséia) tomada por Davi estava situada no
extremo sul da colina leste, no lugar em que o Tiropeón e o Cedrom vão se
aproximando para unir-se ao Hinom (http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/Ger/indexCa.html).
A colina ocidental é a mais alta e
impressionante das que formam a cidade de Jerusalém. Durante séculos ela foi
identificada como Sião ou Jerusalém antiga. Hoje se admite que a cidade de Davi
e Salomão estava sobre a colina leste. Davi conquistou a parte sudeste da
colina, e Salomão levou os limites da cidade mais para o norte, sobre a mesma
colina, ao edificar o templo, no local em que tradicionalmente se tem
localizado o monte Moriá, local do sacrifício de Isaque (Gn 22.2; 2 Cr 3.1) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Jerusal%C3%A9m). O
lugar do templo está assinalado atualmente pela mesquita de Omar, ou “Cúpula da
Rocha” (http://www.bibleplaces.com/domeofrock.htm).
O lado norte de Jerusalém era o
único que não estava protegido por uma ribanceira, e a expansão da cidade
sempre se realizou nesta direção. Nas sucessivas ampliações se foram
construindo diferentes muros defensivos, três dos quais Josefo destaca em
primeiro plano (GJ 5.4). A solução sobre lugar do sepulcro em que foi posto o
corpo de Jesus (morto e ressuscitado fora da cidade: Jo 19.20,42) depende de
onde se localiza o muro exterior correspondente a aquela época. Os muros
impressionantes da Jerusalém Velha que hoje se vê foram construídos durante a
dominação turca (século XVI) sobre alicerces do tempo de Herodes (ver fotos
sobre Jerusalém e arredores em http://www.bibleplaces.com/ e http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/Ger/indexCa.html).
Lc 1.39 situa a pátria de João
Batista nas montanhas da Judéia, segundo a tradição, em Ain
Karim , a oeste de Jerusalém. Betânia, terra
de Lázaro, Maria e Marta, “perto de Jersualém uns 15 estádios” (Jo 11.1-18),
onde Jesus residiu algumas vezes quando de suas visitas a Jerusalém (Mc 11.1; 14.3),
é a Ananias de Ne 11.32 e a moderna Azaruyeh, a leste de Jerusalém e que rodeia
o monte das Oliveiras em seu extremo sul. Recentes escavações na moderna Ramat
Rahel, ao sul de Jerusalém, pôs a descoberto uma fortaleza real do século VII
a.C., que talvez seja o luxuoso palácio de Jeoaquim ( Jr 22.13-19).
3.3.4.3 – O TERRITÓRIO DA CASA DE JOSÉ
Avançando uns 65 a 75 km para o norte a partir do limite de Judá se
chega à faixa montanhosa que durante cinco séculos (1220-720) foi domínio da
casa de José, ou seja, das tribos josefitas de Efraim e parte de Manassés (Gn
48). Este grupo tribal foi o mais importante entre os rivais que disputavam com
Judá a supremacia na Palestina israelita. Quando o povo de Israel entrou na
Palestina sob as ordens de Josué, as tribos mais fortes, Efraim e Manassés,
ocuparam as montanhas centrais. As mais fracas tiveram que contentar-se com as
zonas que ladeavam as montanhas (por exemplo, Benjamim e a localização original
de Dã), ou com o território situado na Galiléia (Issacar, Naftali, Zebulom,
Aser), ou ainda com a Transjordânia (Rubem, Gade). Estas zonas eram muito mais
inseguras, expostas a contínuos ataques. Isto obrigou-as a muitas guerras
defensivas, impedindo que as tribos menores chegassem a aumentar seu poder.
Em Jz 8.1;12.1 aparecem claramente
as aspirações de Efraim no período dos juízes. O primeiro intento frustrado
rumo à realeza foi o de Abimeleque, filho de Gideão, da tribo de Manassés (Jz
6.15;9). Mais tarde, no ano 922, Jeroboão I, um efraimita, encabeçaria a
secessão das tribos do norte para construir um reino separado (1 Rs 11.26; 12).
O emprego do nome “Efraim” pelos profetas para referir-se a todo o reino do
norte indica suficientemente que esta tribo detinha o poder naquela região (Os
6.4; Is 11.13). Concedeu-se às tribos de Efraim e Manassés, descritas como
“príncipe entre seus irmãos” (Dt 33.16), os “melhores frutos das montanhas
antigas e a abundância dos outeiros eternos”(Dt 33.15), o que, sem dúvida, não
impediu que as duas tribos aspirassem ainda a
mais (Is 9.20-21).
Durante a história antiga, EFRAIM foi a
tribo preponderante na casa de José (Gn 48.20), mesmo que Manassés fosse mais
numerosa. Note-se como Efraim assinala qual há de ser o território de Manassés
em Js 16.9. Efraim possui a metade meridional do território atribuído a José.
Seus domínios se estendiam desde uns 30 km ao norte de Geba, em Benjamim, até Tapua
e a região em que as montanhas começam a descer até a rica planície em torno de
Siquém (Js 17.8-9). A Bíblia designa a esta faixa, de uns 30 km de largura, de MONTANHAS DE EFRAIM (Jz
17.1;1 Sm 1.1), formada por colinas que chegam a alcançar altitudes de 300 a 900 metros . A chuva é
abundante nesta área e o solo é fértil, razão pela qual abundam nela as árvores
frutíferas e as oliveiras. Excetuando o limite sul, no qual não há uma
fronteira natural que separasse Efraim de Benjamim, a pendente da meseta
efraimita em direção à planície de Sarom a oeste, a depressão do Jordão a leste
e o território de Manassés ao norte formavam uma defesa natural. Suas cidades
mais importantes eram Betel e Silo.
Betel, que Js 16.1 atribui à casa de José,
estava justamente sobre a fronteira benjamita e a uns 15 km ao norte de Jerusalém.
Chamada em outros tempos de Luz (Js 18.13), Betel foi um santuário no tempo dos
patriarcas e como tal figura nos ciclos narrativos de Abraão e Jacó (Gn 12.8; 13.3-4;
28.10-22; 35.1-16). As escavações realizadas em Betel demonstram que ela foi
arrasada no século XIII, notícia que talvez corresponda à afirmação de Jz 1.22:
“A casa de José subiu contra Betel”. Betel foi um santuário e local de reunião
no tempo dos juizes (Jz 20.18). No intento de voltar à “religião dos tempos
antigos”, Jeroboão, a raiz do cisma de 922, fez de Betel, junto com Dã, um dos
santuários nacionais do reino de norte, rejeitando assim as pretensões
davídicas e judaítas de erigir a Jerusalém como o santuário principal (1 Rs
12.26-29; 13.11). O culto de Betel, assim como o de Jerusalém, corrompeu-se com
superstições. Amós (7.10-17) fustigou aqui o povo e Oséias mudou seu nome para
Bete-Áven(=casa da maldade: 4.15;5.8).
Silo, que se levantava sobre uma plataforma
rochosa no centro do território efraimita, teve sua maior importância na época
dos juizes. Era um lugar em que as tribos se reuniam em assembléia ( Js
22.9,12; Jz 21.19ss) e ali esteve a arca da aliança durante muito tempo,
guardada num edifício permanente ( 1 Sm 1; 4.4). Foi destruída pelos filisteus
em ca. de 1050, pouco depois da batalha de Afeque/Ebenezer, sendo reduzida a um
monte de ruínas (Jr 7.12-14;26.9). De Silo saiu o profeta Aías que ungiu a
Jeroboão e anunciou a divisão do reino salomônico (1 Rs 11.29) (http://www.bibleplaces.com/shiloh.htm).
O sacerdote e profeta Samuel
era de Ramataim-Zofim (Ramá), na parte oeste de Efraim (1 Sm 1.1). É possível que
no tempo do NT seja aqui a localização de Arimatéia, de onde procede José, que recolheu o
corpo de Jesus e lhe deu sepultura (Lc 23.50-51), já que Arimatéia é o nome
grego de Ramá.
Quanto ao território controlado por MANASSÉS, ele
adquire maior importância a partir da independência do reino do norte, em 922. A região ondulada de
Manassés é mais baixa que a de Efraim, com apenas alguns montes que se elevam
até 600 metros .
Formando uma faixa de uns 25 a
30 km de
largura, Manassés se estende do norte de Efraim até alcançar a planície de
Esdrelom. O território possui ricas planícies e graciosos vales. Se bem que o
solo não seja tão fértil como o de Efraim, o clima permite colheitas abundantes
de grãos. Os limites naturais de Manassés estavam menos determinados que os de
Efraim. As cidades de maior interesse eram Siquém, Tirsa, Samaria e Dotã.
Ao sul de Manassés está a planície
de Mane. Sua parte oeste está cercada pelas altas montanhas de Gerizim (881 metros ) e Ebal (940 metros ). Entre estas
duas montanhas, na direção centro-oeste, há um vale que a natureza converteu em
passagem obrigatória para as rotas que unem Judá e Efraim com o norte. Na
entrada deste vale se encontra Siquém (a moderna Balata), a mais importante
cidade bíblica vetero-testamentária depois de Jerusalém (http://www.bibleplaces.com/shechem.htm).
Siquém foi o primeiro lugar cananeu
visitado por Abraão, e já então se considerava o “carvalho de Moré” como um
local sagrado (Gn 12.6). Quando Jacó regressou de Harã, instalou-se em Siquém
(Gn 33.18-19). Este foi o local que logo se daria aos filhos de José (Gn 48.22:
uma porção= em hebraico, sekem). Siquém se achava em mãos israelitas
muito provavelmente antes da invasão capitaneada por Josué (é possível que por
detrás do relato etiológico de Gn 34 se esconda a notícia de uma conquista
anterior a Josué). Aqui também, entre os montes Ebal e Gerizim, foi renovada a
grande aliança de Javé com Israel (Dt 11.29-30; 27; Js 8.30-35; 24). Durante o
tempo dos juízes, parece que se praticou aqui um culto misto. Isto se poderia
depreender da notícia de que os homens da cidade apoiaram a Abimeleque em suas
aspirações à realeza com dinheiro procedente do templo do “Baal-Berite=Baal da
Aliança) ou do “El-Berite=El da Aliança” (Jz 9.4,46).
Em
Siquém, as tribos do norte elegeram a Jeroboão I como rei, ao invés de
submeter-se a Roboão, filho de Salomão (1 Rs 12.1-25). Jeroboão transformou
Siquém, por certo tempo, em capital de seu reino. Mesmo depois que a
administração e o poder foram deslocados para
Samaria, Siquém continuou sendo o
centro em que se celebrava a renovação da aliança. Nos tempos do NT, Jesus se
deteve junto aos muros de Siquém para beber, entabulando a conversa com uma
mulher samaritana (Jo 4.4-42). Este relato nos lembra que o monte Gerizim, em
frente a Siquém, era o local do templo
samaritano e um lugar sagrado para aquele povo. Atualmente os samaritanos
sobrevivem em Nablus, a Neápolis romana, edificada a uns 3 km mais a oeste, no mesmo
vale. Por ocasião da Páscoa, sobem ao cume do Gerizim para imolar os animais
necessários para a sua festa, único resto dos sacrifícios sangrentos de Israel
(http://www.bibleplaces.com/samaritanpassover.htm).
Ao norte de Siquém se encontra Tirsa (Tell
el-Far’ah), próxima à nascente do grande wadi Far’ah, que
desce para o sudeste a caminho do Jordão. Desde os tempos de Jeroboão até Onri
(910-870), esteve instalada aqui a capital do reino do norte ( 1 Rs 14.17;
15.21,33;16.6-23). Sua localização a convertia em lugar estratégico para a
defesa de Manassés pelo leste, já que o wadi Far´ah era uma rota natural de
invasão (é possível que alguns grupos
israelitas usaram esta rota para ocupar Canaã. Isto pode explicar a confusão de
textos como Dt 11.30;27.4; Js 8.30, onde se dá a entender que, logo ao cruzar o
Jordão, os israelitas chegaram ao Ebal e Gerizim. Aqui teríamos um novo indício
de que houve mais de um processo de ocupação do território).
Cruzando para o oeste pelo vale do
Ebal e Gerizim e logo dobrando para o norte, chega-se à majestosa colina de Samaria,
sucessora de Tirsa e a maior das capitais do reino de norte. (Podemos formar
uma idéia de quão curtas são as distâncias ao notar que Tirsa está a uns 11 km ao norte de Siquém, e
que Samaria está à mesma distância desta cidade na direção noroeste). Onri
mudou-se de Tirsa para Samaria (ca. 870: 1 Rs 1.16.24) em parte por razões
geo-políticas. Tirsa estava protegida por montanhas em seu flanco oeste, mas
exposta a invasões procedentes do leste, especialmente da Síria, principal
inimigo de Onri. Samaria estava no outro lado destas montanhas, que formavam
uma barreira contra os inimigos procedentes do leste. Samaria, por outra parte,
contava com rotas na direção noroeste, onde a Fenícia, nova aliada de Israel,
tinha seus ricos portos com grandes possibilidades comerciais.
Situada sobre uma colina isolada, sobre a qual
se erguiam as magníficas construções de Onri e de seu filho Acabe, Samaria deve
ter sido a mais bela de todas as cidades israelitas (cf. Is 28.1). A cidade
dominou no reino do norte a tal ponto que Israel pôde ser chamado pelo nome de
“Samaria”, assim como se aludia frqüentemente
a Judá com o nome de Jerusalém (Ez 16.46). Para o leitor da Bíblia é
importante distinguir entre a cidade e o distrito da Samaria. Este último é o
território de Manassés ou, às vezes, todo o reino do norte. Inclusive após
sucumbir frente aos assírios em 722,
a cidade conservou sua importância estratégica como
capital, sucessivamente, de uma província assíria e persa (Ed 4.17; Ne 3.33-34)
e de um distrito sírio (1 Mac 10.30).
Herodes
Magno reconstruiu a cidade como Sebaste, em honra ao imperador Augusto (sebastos, em grego), porém o distrito
continuou se chamando de Samaria. Quando o NT alude à Samaria, refere-se ao
território situado ao norte da Judéia (At 1.8; 8). Nos últimos séculos antes de
Cristo chamava-se de “samaritanos” não apenas aos habitantes da Samaria, mas
também aos adeptos de uma forma desviada de judaísmo centrada no monte Garizim (http://www.bibleplaces.com/samaria.htm).
Adiante de Samaria, continuando para o norte
de Manassés, a rota principal levava a Dotã, cidade que protegia a baixada desde
Manassés até a planície de Esdrelom. Eliseu esteve em Dotã (2 Rs 6.13).
3.3.4.4 – A PLANÍCIE DE JEZREEL/ESDRELOM
As
montanhas e colinas da casa de José estavam separadas da Galiléia, domínio das
tribos mais nortistas, por um largo vale que corre na direção noroeste-sudeste
desde a baía de Haifa até a depressão do Jordão. A maior parte deste vale,
desde o mar até o monte Gilboa (uns 32
km ) é designado pelo nome de Esdrelom,
reservando a designação de Jezreel para a parte leste, entre o monte Gilboa e
a bacia do Jordão, atravessando a colina de More através da depressão de
Bete-Seã. Já que “Esdrelom” é a forma grega de “Jezreel”, parece melhor
designar as duas partes com os nomes de Esdrelom (ou Jezreel) ocidental e oriental.
A ESDRELOM OCIDENTAL chega a alcançar em alguns pontos
mais de 30 km
de largura. Sua altitude vai subindo de 25 até 100 metros sobre o nível
do mar perto de En-Ganim (Js 19.21). Pela planície corre o rio Quisom, a caminho do mar. Esta é a maior extensão
de terras cultiváveis em toda a Palestina. Quando os israelitas chegaram do
deserto sonhando com a terra que mana leite e mel e se aproximaram deste lugar,
devem ter exclamado: É aqui!. Esdrelom tinha uma grande importância
estratégica do ponto de vista nacional e internacional (http://www.bibleplaces.com/jezreelvalley.htm).
Em termos internacionais, passava
pela planície de Esdrelom a principal rota de comunicação entre o Egito e a
Síria. A parte sudoeste da planície estava flanqueada pela cadeia montanhosa do
Carmelo. Os exércitos ou caravanas que percorriam a costa vindos do Egito,
passando pela Filistéia e pela planície de Sarom, tinham que utilizar uma das
quatro passagens que franqueavam a cadeia do Carmelo para chegar à planície.
Para guardar estas passagens, edificaram-se quatro fortalezas na região:
Jocneão (Js 12.22), Megido, Taanaque (Jz 5.19) e Jibleão. A rota que passava
por Megido era a
mais importante de todas, como o confirma uma notícia egípcia: “A tomada de
Megido equivale à tomada de mil cidades”. Em 1468, o maior de todos os faraós
egípcios, Tutmosis III, ganhou uma batalha contra os restos dos hititas, que
lhe serviu para cimentar seu império universal. Salomão, e mais tarde os reis
do norte, fortificaram esplendidamente a cidade de Megido (1 Rs 9.15). Josias,
o mais piedoso dos reis de Judá, morreu aqui em 609, ao tentar impedir a
passagem de exército egípcio (2 Rs 23.29). Não é de estranhar que o vidente do
Apocalipse tivesse situado neste lugar a grande reunião final das nações
dispostas a entabular o último conflito universal (Ap 16.16:em hebraico har Megido, “monte Megido”, Armagedom em grego) (http://www.bibleplaces.com/megiddo.htm).
Em termos nacionais, a planície de
Esdrelom também foi importante. Enquanto esteve nas mãos dos cananeus (Jz
1.27), as tribos do norte (Issacar, Zebulom, Naftali e Aser) permaneceram
separadas da casa de José. No tempo dos juízes houve uma série de batalhas para
assegurar o controle da planície. No século XII, Débora e Baraque conseguiram
unir as tribos do norte às de José para lutar contra Sísera e os cananeus.
Quando o rio Quisom transbordou, inundando a planície e inutilizando os carros
dos cananeus, os israeliats venceram em Taanaque (Jz 4.7;5.20-21). A vitória
dos filisteus sobre os israelitas em Afeque/Ebenézer, em 1050 (1 Sm 4)
assegurou aos primeiros o controle das planícies de Sarom e Esdrelom. O mesmo
ocorreu quando derrotaram a Saul (ca.1000) em Gilboa ( 1 Sm 29.1;31).
O monte Gilboa demarca uma segunda
parte da planície em direção à depressão do Jordão, que às vezes se chama de
vale de Jezreel, ou vale
de Bet-Shean, e que nós
denominamos de ESDRELOM
ORIENTAL. Este corredor era a rota principal para prosseguir viagem
de Esdrelom ocidental para o vale do Jordão, Transjordânia e Damasco. A
Esdrelom Ocidental se estende na direção sudeste por uns 20 km , com uma largura de 3 km , chegando a 300 metros de altitude
no início, entre Gilboa e Moré, até que alcança o vale do Jordão. Dada sua
situação como passagem entre a Palestina e a Transjordânia, a Esdrelom Oriental
serviu muitas vezes como rota de invasão. Na batalha liderada por Gideão contra
os saqueadores midianitas, aquele acampou sobre o monte Gilboa em Harode, na
ladeira sul deste corredor, enquanto que os midianitas se instalaram em frente,
sobre a colina de Moré (Jz 6.33; 7.1). Exatamente as mesmas posições ocuparam
Saul e os filisteus (1 Sm 28.3ss). Saul passou de noite entre as linhas dos
filisteus para consultar a feiticeira de En-dor, justamente ao norte de Moré.
Tão logo Saul foi derrotado em Gilboa, os filisteus regressaram pela mesma
passagem e penduraram seus corpos sobre os muros de Bete-Seã (1 Sm 31.8-10).
Quando Onri e Acabe fixaram a capital do reino
do norte em Samaria, souberam apreciar a beleza e a importância estratégica do
vale de Esdrelom, edificando uma residência na cidade de Jezreel, junto à
entrada oeste do corredor que leva a Bete-Seã. Aqui tiveram lugar o trágico
episódio da vinha de Nabote e a morte desastrosa de Jezabel ( 1 Rs 21.1; 2 Rs
9.30; 10.11). O profeta Oséias deu o nome de Jezreel a seu filho,
significando assim a ameaça de um castigo divino que pesava sobre aquele lugar
pelos crimes que nele se havia cometido (Os 1.1-4). Oséias viu aqui também uma
promessa divina de fertilidade (2.22-23).
Na época do NT, consigna-se a
passagem de Jesus pela planície de Esdrelom quando ele ressuscitou o filho da
viúva de Naim, cidade situada na ladeira norte da colina de Moré (Lc 7.11-17).
A nordeste dele se acha o monte Tabor, solitário e simétrico (http://www.bibleplaces.com/mounttabor.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Tabor). (A proximidade de ambas as elevações tem
feito a muitos intérpretes pensar que o “Tabor e o Hermom” do Sl 89.12 seriam
em realidade o Tabor e o Moré; deste mal entendido provém o costume de chamar o
Moré de “pequeno Hermom”). O Tabor serviu de ponto em que se juntavam os
limites fronteiriços entre Zebulom, Naftali e Issacar. Este provavelmente é o
motivo de Baraque juntar suas forças no
Tabor (Jz 4.6). Do Tabor se domina a entrada que leva de Esdrelom para o lago
da Galiléia, e Jesus deve ter percorrido esta rota em suas viagens a partir de
Nazaré. É o lugar em que, tradicionalmente, mas com rara probabilidade, se
localiza a “montanha alta” do episódio da transfiguração (Mc 9.2).
3.3.4.5 – A GALILÉIA
Cruzando a planície de Esdrelom em direção ao norte,
chegaremos a uma região que figura muito pouco na história do AT. Nela, porém,
na perspectiva cristã, se cumprem todas as aspirações do AT. Na parte norte de
Esdrelom se elevam as colinas da Galiléia, e 5 km adentro está Nazaré, onde
Jesus passou a maior parte de sua vida (http://www.bibleplaces.com/nazareth.htm). Situada entre
Esdrelom e Dã, a GALILÉIA se estende por uns 50-65 km de sul a norte, e por
uns 30-40 km
de leste a oeste. A oeste estava a planície costeira de ASER. Pelo
leste se chega à depressão do Jordão, ao lago da Galiléia e à parte superior do
rio Jordão. Há uma Alta Galiléia ao norte, e uma Baixa Galiléia ao sul. Ambas
estão divididas por uma falha na direção leste-oeste, que corre aproximadamente
desde Aco (Ptolemaida) até o limite norte do lago da Galiléia.
A BAIXA GALILÉIA (ou Galiléia do Sul) é formada por
formosas colinas que não chegam a exceder os 600 metros de altitude.
Em alguns lugares ela se parece muito com a Sefelá do sul. Nos tempos do AT, a
maior parte da Baixa Galiléia esteve ocupada por Zebulom, Aser, junto à costa,
Issacar a sudeste e Naftali ao norte e a leste. Zebulom funcionava como um
amortecedor entre estas tribos, o que lhe deu uma posição proponderante na
área. Parece que a Galiléia se manteve à margem da vida israelita, a julgar
pelos relatos do AT. Galiléia caiu nas mãos dos assírios depois da guerra
siro-efraimita de 735 (2 Rs 15.29). Isaías (9.1-2) refere-se ao território de Zebulom
e Naftali como “Galiléia dos gentios”, prometendo que aquele povo, sumido nas
trevas, veria uma grande luz (cf. também Mt 4.15-16). Durante o período
helenista foi numerosa a população de judeus naquela região (1 Mac 5.9-23). Sem
dúvida, durante o ministério de Jesus, quando a Galiléia era governada por
Herodes Antipas, os judeus “puros” da Judéia, que se achavam sob o controle de
um procurador romano (Lc 3.1), a tratavam com certo desdém (Jo 7.52).
O terreno da Baixa Galiléia está
salpicado por pequenos vales regados por águas que descem das colinas. O solo
destes vales são de aluvião, muito fértil, enquanto que as cidades se encontram
nas faldas das colinas. Esta paisagem está vivamente descrita nas parábolas de
Jesus: campos separados por sebes e cercas de pedra, rebanhos que pastam em
colinas, cidades situadas no alto dos montes, etc. Duas das cidades da Baixa
Galiléia, Nazaré e Canaá, estão encravadas na borda de ricos vales. Caná não
corresponde seguramente ao atual local de peregrinação, Kefr Kenna, a uns 5 km a nordeste de Nazaré, e
sim, mais provavelmente a Khirbet Qana, 14 km ao norte de Nazaré. Jotapata, não
mencionada na Bíblia, onde Josefo foi derrotado e capturado pelos romanos, está
muito próxima. A principal cidade nos tempos do NT era Séforis, capital
de distrito, sobre a rota que levava de Aco/Ptolemaida a Tiberíades (http://www.bibleplaces.com/sepphoris.htm). A escola
pós-bíblica de Bet-Shearim, na planície de Esdrelom, se mudou finalmente para
Séforis, onde o rabi Judá, o Príncipe, passou os últimos dezessete anos de sua
vida codificando a Mishná. Galiléia foi, portanto, a cunha do cristianismo e do
judaismo pós-bíblico.
Quanto à ALTA GALILÉIA (ou Galiléia do Norte), a
configuração do solo é bem diferente, com áreas mais montanhosas e altitudes
que alcançam 900-1200
metros . Características desta região são as fortes
chuvas e o vento. Em realidade, aqui começa a elevar-se a cadeia do Antilíbano,
que segue em direção ao norte. Esta área não tem importância para o AT e o NT, exceto como lugar de
refúgio, pois as alturas inacessíveis ofereciam a possibilidade de resistência
a poderosos exércitos. Giscala foi um foco de tenaz resistência judaica
contra os romanos. Dali procedia João (de Giscala), inimigo de Josefo. Safed, sobre o
cume de uma montanha (Mt 5.14) e que oferece uma visão esplêndida até o lago de
Hule e o lago da Galiléia, e Gamla, também figuram nos episódios da
sublevação judaica (http://www.bibleplaces.com/gamla.htm).
Por volta de 1500, Safed se converteu em centro de uma nova colonização
judaica. Sua escola de mística produziu o Shulhan Aruk e algumas importantes
exposições da Cabala. A mística de Safed foi o último broto do zelo de Deus de
que este pequeno país tem sido, durante séculos, um testemunho excepcional.
(Texto
baseado, sobretudo, em Robert NORTH /Raymond
E. BROWN e Joachim GONZÁLES, indicados na bibliografia abaixo).
BIBLIOGRAFIA
a) Textos sobre geografia bíblica
CESAR,
Éber M. Lenz. História e geografia
bíblica. São Paulo: Candeia, 2002.
(acompanha CD com mapas e fotografias da Palestina).
ECHEGARAY, Joachim Gonzáles. O Crescente Fértil e a Bíblia. Petrópolis:
Vozes, 1995.
LAMADRID, Antonio Gonzales. La fuerza de la tierra: Geografia, historia y teologia de Palestina. Salamanca:
Ediciones Sígueme, 1981.
LAEPPLE,
Alfred. A bíblia hoje: Documentação de
História, Geografia e Arqueologia. São Paulo: Paulinas, 1979.
NORTH, Robert; BROWN, Raymond E. Geografia Bíblica. In: Comentário
San Jeronimo. Tomo V Estúdios Sistematicos, p. 347-396.
TERRA,
João E.M. Geografia bíblica. In: Revista
de Cultura Bíblica. 16, 61-62, 1992, p. 8-20)
THEISSEN,
Ged. Los evangelios y su situacion genética. In: Colorido local y contexto histórico
em los evangelios. Salamanca: Sigueme, 1997, p. 259-320.
b)
Mapas, atlas e outros recursos visuais
GALBIATI,
Eurico; ALETTI, Aldo. Atlas histórico da
Bíblia e do Antigo Oriente. Petrópolis: Vozes, 1991.
PACOMIO,
Luciano; VANETTI, Pietro. Pequeno Atlas
Bíblico: história, geografia e arqueologia da Bíblia. Aparecida: Santuário,
1996.
PEREGO,
Giacomo. Atlas bíblico interdisciplinar:
Escritura, história, geografia, arqueologia, teologia: análise comparativa.
São Paulo: Paulus, 2001.
SERVIÇO
DE ANIMAÇÃO BÍBLICA. Mapas e temas bíblicos. São Paulo: Paulinas, 2001.
(42 transparências com mapas e temas bíblicos.Acompanha um pequeno texto
explicativo).
MAPAS.
São Paulo: Paulinas, 1987 (coleção de mapas bíblicos, elaborados por períodos
cronológicos).
- http://www.biblemap.org/ (BibleMap é um Atlas Bíblico que usa fotos de satélite e mapas do Google para indicar localidades
bíblicas. Funciona assim: primeiro se escolhe um capítulo da Bíblia, que está em inglês. Os nomes das
localidades mencionadas no capítulo aparecem em forma de links. Clique sobre um
link e a localidade é visualizada no Google Maps - como é atualmente e não no
tempo bíblico. Então, pode-se clicar sobre a localidade e aparecerão
informações sobre ela, além de se poder usar o zoom e a navegação pelo mapa
típica do Google Maps ).
- http://www.painsley.org.uk/re/Atlas/default.htm (Atlas Bíblico elementar, com mapas dos impérios antigos e vários mapas de
Israel, do período do Antigo e do Novo Testamento).
- http://www.bibleplaces.com/ (Belíssima coleção de
fotografias e descrições de importantes sítios em Israel, Jordânia,
Egito,Turquia e Grécia, com ênfase na arqueologia, geografia e história
bíblicas).
-
http://www.david-guerrero.com/viajes/orientemedio2003/index.html (site com belas forografias da Síria, Líbano, Jordânia e
Palestina).
- http://198.62.75.4/www1/ofm/sbf/escurs/index.html (roteiros de excursão, em três línguas, para cidades e sítios arqueológicos de
interesse bíblico, com pequenos textos explicativos e boas fotografias,
organizado por franciscanos).
- http://www.stg.brown.edu/projects/Inscriptions/ (Este projeto quer
colecionar e tornar disponíveis todas as inscrições da terra de Israel de 330 a .C. até 614 d.C. Feito
por Michael L. Satlow).
- http://www.bearport.org/SatMap/ (O Interactive Satellite
Map of the Holy Land é um programa gratuito para ser instalado no computador do
usuário e que oferece um mapa de Israel em alta-resolução, feito por satélite,
com indicação das mais importantes localidades bíblicas. Quando o nome de uma
localidade é clicada no menu que fica à esquerda, ela aparece no mapa. Clicando
sobre o seu nome aparece uma janela pop-up com a descrição, fotos e citação
bíblica da localidade. O download gratuito do mapa pode ser feito em formato
.exe ou em formato .zip, à escolha.
- http://www.usm.maine.edu/~maps/exhibit1/ (Mapas que ilustram a história de Jerusalém na celebração de
seus 3000 anos como capital do reino davídico. Alguns mapas são antigos, outros
são idealizados a partir de interpretações dos textos bíblicos e outros são
objetivos, fundamentados em dados históricos. Da University of
Southern Maine).
-
http://darkwing.uoregon.edu/~atlas/europe/maps.html (Mapas da Universidade do Oregon. São nítidos, coloridos e
carregam rapidamente. Alguns deles são interativos. Valiosos para o estudo do
mundo greco-romano onde nasceu e se desenvolveu o cristianismo).
-
http://www.inisrael.com/3disrael/index.html (site com tours virtuais)
-
http://www.jerusalemshots.com/Jerusalem_en62-6137.html (belíssimas fotos
de Jerusalém)
-
http://www.ancientanatolia.com/Pictures/Gallery01/gallery01.htm (fotos da Ásia Menor-Turquia).
(Verner Hoefelmann)
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