O livro dos Salmos é um conjunto de
150 poesias compostas pelo antigo Povo Eleito para rezar a seu Deus. No
original hebraico, esse livro chama-se “livro dos hinos”, mas nem sempre se
trata propriamente de hino no sentido estrito. O nome “salmos” vem de tradução
grega (LXX). A palavra grega psalmos, indica a música tocada num instrumento de
cordas chamado psaltérion, semelhante à lira e usado no acompanhamento dos
hinos. Na Bíblia, significa o tipo de poesia religiosa que corresponde a mizmor,
termo hebraico que aparece no cabeçalho de 57 salmos.
Os salmos foram compostos em
diferentes épocas da história de Israel, por vários autores, e estão colocados
na Bíblia sem ordem lógica nem cronológica. Há, no entanto, salmos de caráter
idêntico, reunidos em pequenas seqüências, como os salmos de romaria (salmos
120-134).
ASPECTO
GERAL:
1)
Divisão e numeração:
À imitação do Pentateuco formado por
cinco livros, também os Salmos se agrupam em cinco livros; 1) 1-41; 2) 42-72;
3) 73-89; 4) 90-106; 5) 107-150. Cada livro termina por uma doxologia, isto é,
uma aclamação de louvor a Deus.
Ao serem traduzidos para o grego,
dois salmos foram divididos ao meio e outros, quatro foram reunidos dois a
dois, criando uma numeração diferente, quase sempre uma unidade atrás da
original. A correspondência das duas numerações é visualizada no seguinte
quadro:
Hebraico
|
Grego
|
1-8
|
1-8
|
9-10
|
9
|
11-113
|
10-112
|
114-115
|
113
|
116
|
114-115
|
117-146
|
116-145
|
147
|
146-147
|
148-150
|
148-150
|
Nas nossas traduções, a numeração
hebraica aparece sem ( ), e a grega esta inserida nos ( ).
2)
Os Cabeçalhos:
Os Cabeçalhos dos Salmos são muito
antigos e para os tradutores gregos às vezes não eram fáceis de entender. Os
Cabeçalhos não são os títulos temáticos que nas edições modernas da bíblia encimam
os salmos. Normalmente eles aparecem em itálico ou entre colchetes nas bíblias modernas
indicando que não devem ser lidos nas proclamações. As bíblias protestantes não
os incluem na numeração dos versículos por isso pode haver defasagem do numero
nos vv. seguintes.
Os Cabeçalhos exprimem o nome da
pessoa que fez o salmo ou à qual ele era atribuído (os principais autores seriam
então Davi com 73 salmos, Asf com 12 e os filhos de Coré com 11. Chegou-se a
atribuir a Davi o saltério inteiro, como toda a Lei foi atribuída a Moises e
toda a literatura Sapiencial a Salomão). “Davi é também chamado em 2 Sm 23,1 :
o cantor dos salmos de Israel” e certamente foi o iniciador de um movimento
poético e litúrgico. Mas a poesia hebraica existia bem antes dele, como se pode
ver p. ex. pelo cântico de Moisés (Ex 15). Em 1 Cr 15,16-19 aparecem os nomes
de Asaf, Etã, emã, que são também salmistas. O caráter do salmo, seu gênero
literário, anotações musicais, o instrumento que acompanhava o tom, a melodia
com a qual era cantado. É bom ter presente que os salmos foram feitos para
serem cantados e não simplesmente rezados ou recitados. O uso litúrgico do
salmo também variava conforme a ocasião ou dia...
3)
Estrofes, salmos alfabéticos:
A divisão em estrofes não faz parte do
texto original, ma foi acrescentada na tradição ulterior para facilitar a recitação.
Alguns salmos (9-10, 25, 34, 37, 11, 112, 119, 145) são alfabéticos, isto é,
inicia cada estrofe com as sucessivas (22) letras do alfabeto hebraico. Como
porem, isso não transparece na tradução e, em diversas épocas, a divisão
alfabética sofreu corruptelas.
4)
Gêneros:
Os salmos são um diálogo do povo de
Deus do AT com Aquele que é seu libertador, criador, refúgio e proteção. Neles
a alma israelita exprime seus sentimentos: louvor, adoração, alegria, angústia,
confiança, súplica, aflição, arrependimento e até mesmo a ira e a imprecação.
Daí a possibilidade de separarmos os salmos em determinadas categorias. Mas nem
sempre o pensamento do autor segue um caminho único: muitas vezes num mesmo
salmo os sentimentos e as formas se sucedem, dificultando uma classificação
precisa. Podemos, no entanto, considerar ao menos como aproximativa a seguinte classificação:
a)
Os Hinos: louvam a
majestade do Senhor, manifestada na natureza e na história de Israel. Dentro
dessa classe, se destacam os grupos menores: 1) Os salmos do Reino, que
proclamam a realeza de Deus sobre a terra; 2) os cânticos de Sião, que exaltam Jerusalém
e seu Templo; 3) os salmos de Aleluia (113 – 118) cantados, sobretudo na Páscoa
(a palavra alelu-ia significa exatamente “louvai o Senhor”)
b)
As súplicas: que
descrevem para Deus os males do momento, pedindo salvação. Conforme se trata de
um mal que aflige o individuo ou a nação, distinguem-se: 1) súplicas coletivas;
2) súplicas individuais, nesta categoria se enquadram os salmos de lamentação,
para os dias de jejum e penitência e ainda sete salmos chamados penitenciais,
desde Santo Agostinho (6, 32, 38, 51, 102, 130 , 143). Exprimem a consciência
do pecado, com um pedido de perdão.
c)
Ações de graças: que
agradecem a Deus pela salvação obtida, são também subdivididas em coletivas e
individuais.
d)
Sapienciais: que
meditam a Lei, e ensinam como seguir os caminhos de Deus. Alguns desses (37,
49, 73) refletem sobre problema da pessoa que sofre sem ter cometido o pecado.
O salmo 119 é uma longa meditação sobre a Palavra de Deus, nele, cada grupo de
8 versículos começa com a mesma letra em ordem alfabética. Esse salmo, junto
com o 9, 25, 34, 111, 112, 145, compostos de modo semelhante, chama-se
justamente alfabético; é um artifício que reaparece mais vezes na poesia
hebraica, p ex. Pr 31,10-31 e Lamentações.
e)
Salmos de caráter mais Litúrgico,
nos quais se fala de procissões e sacrifícios, oráculos e bênçãos – p ex o 15,
24, 68, 95. Forma uma classe especial os “salmos de romaria” cantados por
ocasião das peregrinações a Jerusalém nas festas religiosas: salmos 120 a 134.
f)
Os salmos Históricos:
que rezam a Deus com os fatos da vida e do passado de Israel, meditando-os para
deles tirar lições de vida: 78, 105, 106.
g)
Salmos Régios ou Messiânicos:
aqueles que vêem na pessoa do rei um representante de Deus, encarregado de
salvar o povo. Porque essas esperanças não se realizaram no presente, eram
projetadas para o futuro, para um enviado de Deus, que haveria de ser um outro
Davi, rei justo e poderoso. São os salmos 2, 20, 21, 45, 72, 89, 110, 132.
h)
Há um alista de salmos chamados de Imprecatórios (35, 55, 58, 59, 69, 79, 83, 94,
109, 137, 140. Por conterem expressões de vingança contra os inimigos. Para
entendê-los é preciso recordar o tempo e a cultura onde nasceram. A revelação
do Primeiro Testamento é provisória, é uma preparação para o Segundo e não
tinha alcançado a perfeição desta. Não era muito clara a esperança na vida
futura; achavam que os mortos iam todos para um mesmo lugar, a mansão dos
mortos, lugar de silêncio e letargia; portanto só nesta vida é que tinha vez à
justiça divina. A linguagem dos orientais é mais apaixonada que a nossa. E no
Oriente antigo a maldição era considerada como meio de legitima defesa. Os
inimigos do povo de Deus são também inimigos de Deus, que desafiam a sua justiça.
O salmista quer mostrar exatamente quanto confia nesta justiça que tarda, mas
não falha.
5)
Lista de classificação dos salmos:
a)
agradecimento coletivo: 66, 75, 85, 107, 124, 126.
b)
agradecimento individual: 9, 18, 30, 34, 92, 115, 116, 120, 138.
c)
cânticos de Sião: 46, 48, 76, 84, 87, 122, 137.
d)
confiança: 3, 4, 11, 16, 23, 27, 62, 63, 71, 91, 121, 125, 129, 131.
e)
denúncia profética: 50, 58, 82.
f)
hinos: 8, 19, 29, 33, 65, 67, 96, 100, 104, 111, 113, 114, 117, 135, 145, 146,
147, 148, 149, 150.
g)
históricos: 78, 105, 106.
i)
litúrgicos: 24, 68, 81, 95, 118, 134, 136.
j)
penitenciais: 6, 32, 38, 51, 102, 130, 143.
l)
régios: 2, 20, 21, 45, 72, 89, 110, 132.
m)
salmos do Reino: 47, 93, 97, 98, 99.
n)
sapienciais: 1, 15, 36, 37, 49, 52, 73, 101, 112, 119, 127, 128, 133, 139.
o)
súplicas coletivas: 12, 14, 44, 53, 60, 74, 79, 80, 83, 90, 123, 144.
p)
súplicas individuais: 5, 7, 13, 17, 22, 25, 26, 28, 31, 35, 39, 41, 42, 43, 54,
55, 56, 57, 59, 61, 64, 69, 70, 77, 86, 88, 94, 108, 109, 140, 141, 142.
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